quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Saindo do Armário




Confira oito passos para quem quer sair do armário

Psicóloga e sexóloga da Uerj diz como minimizar o sofrimento de quem quer se assumir, mas ainda falta coragem.

A declaração do cantor Ricky Martin, que assumiu publicamente sua homossexualidade, teve uma grande repercussão. Ricky tomou coragem e resolveu se declarar gay aos 38 anos, mas muita gente ainda encontra dificuldades para “sair do armário”.

Reveja a reportagem exibida no Fantástico sobre o assunto

“A revelação da condição de homossexual ainda é muito difícil em nossa sociedade e se não causa traumas, com certeza, na maioria das vezes, é uma situação muito difícil que causa sofrimento”, acredita a psicóloga e sexóloga Jaqueline Lopes, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), que falou ao Show da Vida na semana passada sobre o assunto.

A pedido do Fantástico, Jaqueline listou oito dicas para minimizar o sofrimento de quem quer se assumir, mas ainda falta coragem. Confira:

1) Auto-aceitação: É preciso uma auto-aceitação, eliminando a visão preconceituosa e negativa que se tem, pela educação recebida, por uma sociedade que espera e ensina, desde a tenra idade, que atração e desejo sexual devem ser dirigidos ao sexo oposto, ou seja, uma orientação heterossexual. Aceitando-se, tendo autoestima, fica mais fácil entender e resistir a situações preconceituosas que virão de algumas pessoas.

2) Informe-se: Buscar informações para esclarecer as pessoas que orientação sexual é mais do que sexo, é um sentimento, desvinculando alguns mitos: é safadeza, está na moda, são as companhias, é a televisão etc. Importante também mostrar que continua sendo a mesma pessoa, esperando que todos se relacionem e o(a) amem como sempre fizeram.

3) A quem revelar? Lidar com o medo da revelação, o que depende muito do ambiente e da história familiar, podendo ser o assunto abordado e aceito com maior ou menor facilidade. Para isso, escolher a pessoa com quem tem maior empatia e com a qual divide suas intimidades deve ser o primeiro passo. É inevitável que pessoas mais íntimas não falem sobre namoro, casamento, filhos; cobranças próprias principalmente de pais, irmãos, parentes e amigos. A partir do momento que eles souberem de sua orientação, essas cobranças que causam mal-estar poderão ser evitados.

4) Reação das pessoas: Preparar-se para lidar com a incerteza das reações das pessoas (mais íntimas ou sociedade em geral), seja pela falta de informação ou preconceito. É preciso ter uma certa compreensão das dúvidas e dificuldade de aceitação delas, já que muitas vezes, o próprio homossexual passou por isso.

5) Preserve a intimidade: Não sair dando explicações da sua orientação sexual para a sociedade. Algum heterossexual precisa fazer isso? Mas se alguém fizer algum questionamento, responder de forma clara e segura, sem grandes explicações (preservando sua intimidade), fazendo com que o assunto se esgote e o respeitem.

6) Preconceito: Ter consciência de que enfrentará e deverá lutar contra situações difíceis e direitos não reconhecidos. Embora haja hoje em dia maior visibilidade, falta informações e discussões sérias sobre homossexualidade e, consequentemente, muitos preconceitos a serem enfrentados.

7) Qual o momento certo para falar? Nunca declarar sua homossexualidade durante uma briga, em forma de brincadeira ou após beber. É preciso planejar e escolher o melhor momento para ter uma conversa séria, expressando sentimentos e informações.

8) É melhor esconder? Não esconder sua orientação sexual de seus amigos e familiares mais próximos, deixando que eles saibam por terceiros.

Fonte: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1560108-15605,00.html

Drauzio Varella disserta sobre direitos dos homossexuais

DRAUZIO VARELLA

Violência contra homossexuais

Negar direitos a casais do mesmo sexo é imposição que vai contra princípios elementares de justiça


A HOMOSSEXUALIDADE é uma ilha cercada de ignorância por todos os lados. Nesse sentido, não existe aspecto do comportamento humano que se lhe compare.
Não há descrição de civilização alguma, de qualquer época, que não faça referência a mulheres e a homens homossexuais. Apesar de tal constatação, esse comportamento ainda é chamado de antinatural.
Os que assim o julgam partem do princípio de que a natureza (leia-se Deus) criou os órgãos sexuais para a procriação; portanto, qualquer relacionamento que não envolva pênis e vagina vai contra ela (ou Ele).
Se partirmos de princípio tão frágil, como justificar a prática de sexo anal entre heterossexuais? E o sexo oral? E o beijo na boca? Deus não teria criado a boca para comer e a língua para articular palavras?
Se a homossexualidade fosse apenas uma perversão humana, não seria encontrada em outros animais. Desde o início do século 20, no entanto, ela tem sido descrita em grande variedade de invertebrados e em vertebrados, como répteis, pássaros e mamíferos.
Em alguma fase da vida de virtualmente todas as espécies de pássaros, ocorrem interações homossexuais que, pelo menos entre os machos, ocasionalmente terminam em orgasmo e ejaculação.
Comportamento homossexual foi documentado em fêmeas e machos de ao menos 71 espécies de mamíferos, incluindo ratos, camundongos, hamsters, cobaias, coelhos, porcos-espinhos, cães, gatos, cabritos, gado, porcos, antílopes, carneiros, macacos e até leões, os reis da selva.
A homossexualidade entre primatas não humanos está fartamente documentada na literatura científica. Já em 1914, Hamilton publicou no "Journal of Animal Behaviour" um estudo sobre as tendências sexuais em macacos e babuínos, no qual descreveu intercursos com contato vaginal entre as fêmeas e penetração anal entre os machos dessas espécies. Em 1917, Kempf relatou observações semelhantes.
Masturbação mútua e penetração anal estão no repertório sexual de todos os primatas já estudados, inclusive bonobos e chimpanzés, nossos parentes mais próximos.
Considerar contra a natureza as práticas homossexuais da espécie humana é ignorar todo o conhecimento adquirido pelos etologistas em mais de um século de pesquisas.
Os que se sentem pessoalmente ofendidos pela existência de homossexuais talvez imaginem que eles escolheram pertencer a essa minoria por mero capricho. Quer dizer, num belo dia, pensaram: eu poderia ser heterossexual, mas, como sou sem-vergonha, prefiro me relacionar com pessoas do mesmo sexo.
Não sejamos ridículos; quem escolheria a homossexualidade se pudesse ser como a maioria dominante? Se a vida já é dura para os heterossexuais, imagine para os outros.
A sexualidade não admite opções, simplesmente se impõe. Podemos controlar nosso comportamento; o desejo, jamais. O desejo brota da alma humana, indomável como a água que despenca da cachoeira.
Mais antiga do que a roda, a homossexualidade é tão legítima e inevitável quanto a heterossexualidade. Reprimi-la é ato de violência que deve ser punido de forma exemplar, como alguns países o fazem com o racismo.
Os que se sentem ultrajados pela presença de homossexuais que procurem no âmago das próprias inclinações sexuais as razões para justificar o ultraje. Ao contrário dos conturbados e inseguros, mulheres e homens em paz com a sexualidade pessoal aceitam a alheia com respeito e naturalidade.
Negar a pessoas do mesmo sexo permissão para viverem em uniões estáveis com os mesmos direitos das uniões heterossexuais é uma imposição abusiva que vai contra os princípios mais elementares de justiça social.
Os pastores de almas que se opõem ao casamento entre homossexuais têm o direito de recomendar a seus rebanhos que não o façam, mas não podem ser nazistas a ponto de pretender impor sua vontade aos mais esclarecidos.
Afinal, caro leitor, a menos que suas noites sejam atormentadas por fantasias sexuais inconfessáveis, que diferença faz se a colega de escritório é apaixonada por uma mulher? Se o vizinho dorme com outro homem? Se, ao morrer, o apartamento dele será herdado por um sobrinho ou pelo companheiro com quem viveu por 30 anos?

Fonte: http://www.drauziovarella.com.br/ExibirConteudo/6375/violencia-contra-homossexuais

Porque a Bíblia assim me diz

Documentário completo produzido nos Estados Unidos, um dos países onde a religião cristã protestante mais cresceu, mostrando a luta de homossexuais evangélicos pela aceitação em suas familias e igrejas. 
Este vídeo deveria ser assistido por todos aqueles que se sentem rejeitados e oprimidos por serem homossexuais, bem como por aqueles que possuem um ponto de vista rígido sobre o conceito de homossexualidade e religião.


Uma carta aos meus pais



Aos meus amados pais!

Mãe e Pai, achei que a melhor forma de conversar com vocês sobre este assunto seria escrevendo este texto, pois assim eu consigo organizar melhor minhas idéias.

Quero que vocês saibam que eu os amo muito, e que sempre vou amá-los, aconteça o que acontecer. Sei que vocês também me amam, ainda que eu não seja um filho perfeito e sei que tenho muito a melhorar.

Também quero que vocês saibam que tenho adiado ter esta conversa com vocês por muito tempo. A princípio porque eu mesmo não queria encarar a realidade e tentei de todas as formas contornar a situação, mas cheguei a um ponto da minha vida que eu não tenho mais esperança de que as coisas irão mudar, portanto terei de fazer os meus planos de acordo com a minha realidade de vida e não conforme as expectativas sociais e mesmo familiares.
Eu sei que você tem muitos sonhos para mim e que querem me ver feliz. Digo a vocês que eu sou um rapaz feliz, pois tenho vocês na minha vida. Vocês me ajudaram a conquistar tudo o que tenho hoje e mais importante do que as minhas conquistas é o fato de vocês estarem ao meu lado para me apoiar em todos os momentos.

O que eu temia, e ainda temo, é perder o apoio de vocês, pois sei que estarei frustrando as vossas expectativas como pais para mim e também contrariando o entendimento da “verdade” e “curso natural das coisas”, de como elas deveriam ser. Mas eu não posso mais viver assim. Talvez outros consigam, mas não eu. Não posso passar toda a minha vida escondendo das pessoas que eu mais amo aquilo que está dentro de mim, involuntário, e que é em muitas famílias uma ameaça à paz e a relação entre pais e filhos.

Mãe e Pai, por mais que isto possa doer neste momento em vocês, quero que saibam que isto tem doido em mim por todo o tempo da minha existência consciente. Se isto que estou dizendo é algo novo para vocês, isto não é nada novo para mim e tem me maltratado por todos estes anos. Demorou muito tempo para que eu pudesse tomar coragem e encarar a mim mesmo, buscar respostas e o apoio de outras pessoas na minha vida, tudo motivado pelo medo de ser colocado de lado, de ser rebaixado e maltratado.

Eu quero dizer a vocês que por mais que eu tenha tentado ser como os outros, eu não consigo. Tenho tentado por muitos anos mudar a minha natureza, mas não tive sucesso. Cheguei a um ponto que pensei em até mesmo tirar minha própria vida, achando que estava sem saída, mas graças a Deus obtive auxílio e posso dizer que hoje já dei a volta por cima e que estou bem interiormente comigo mesmo e com Deus. Quero dizer a vocês que eu não sou como a maioria dos homens, não sou heterossexual, não sinto atração pelo sexo oposto.
Vocês acompanharam meu desenvolvimento por todos estes anos e eu acredito que em determinados trechos da minha criação vocês devem ter se perguntado se eu não era mesmo diferente, mas não queriam acreditar que isto aconteceria com o filho de vocês. Eu acho que nenhum pai ou mãe gostaria de ter um filho “gay”, mas isto não é uma escolha, acontece nas melhores famílias, em todas as sociedades e religiões. Vocês não são culpados de nada, as coisas são como elas são e não há porque tentar achar um culpado. Vocês sempre foram pais excelentes para mim.

Eu acredito que vocês saibam que há uma coisa que se chama orientação sexual, que é aquilo que faz com que as pessoas se sintam afetivamente e sexualmente atraídas umas pelas outras. A grande maioria das pessoas possui uma orientação heterossexual, que é aquela na qual elas se sentem atraídas pelo sexo oposto. Uma minoria possui a orientação homossexual, onde elas gostam de pessoas do mesmo sexo. No conceito da maior parte da sociedade, os homossexuais são seres sem caráter, homens efeminados que muitas das vezes se vestem de mulher e que falam mole, desmunhecam e dão encima de tudo quanto é homem. As mulheres são masculinizadas, falam grosso e se vestem como macho. Estas pessoas são apenas uma minoria daquelas que são na verdade homossexuais. Existe uma quantidade muito grande de pessoas não heterossexuais que jamais poderiam ser identificadas como tais, a menos que elas dissessem. São pessoas normais, que trabalham, estudam e se esforçam por um futuro melhor. Infelizmente por causa do preconceito social estas pessoas têm medo de revelar o que elas sentem justamente por que não querem ser comparadas aos gays e lésbicas que estão ai dando escândalos e sofrendo preconceito.

Eu tenho buscado respostas para mim mesmo durante muito tempo, através da psicologia, conversando com outras pessoas e também através da religião. Vocês viram o livro daquele psicólogo, Augusto Curi, que eu comprei, chamado “O código da Inteligência”. Ele é um livro muito bom, que ajuda as pessoas que passam por conflitos existenciais a acharem respostas dentro de si mesmas. A verdade é que muitas das vezes nós deixamos de viver nossas próprias vidas por conta daquilo que outras pessoas vão achar ou falar de nós, e acabamos vivendo num perfil que não é verdadeiramente o nosso, mas um perfil que o grupo ao qual pertencemos quer que nós tenhamos.

Tenho conversado com outras pessoas que estão na mesma situação que eu, escondidos e oprimidos, com medo de que algum dia seus pais e amigos descubram a verdade e eles sejam rejeitados. Vivem um dilema diário, um conflito existencial e não sabem como será o dia seguinte,  o ano seguinte nem como estará a vida daqui a 10 anos. Eles têm medo do futuro, da perda de pessoas importantes em suas vidas, pessoas que não sabem o terror que eles vivem e que provavelmente os entregarão ao abandono sentimental após saberem da verdade, condenando-as por algo que elas não tem controle.

Busquei ajuda em Deus, orei muito, chorei, busquei muitas Palavras na igreja. Arrumei namoradas para tentar uma vida “normal”, dentro dos padrões estabelecidos, mas realmente nada resolveu. Na igreja, os próprios anciães, nas Reuniões da Mocidade, aconselham moços e moças que não se sentem atraídos pelo sexo oposto a não se casar, pois isto acaba trazendo problemas em longo prazo na vida do casal. Os próprios anciães mais esclarecidos chegaram à conclusão de que homossexualidade não é uma escolha, nem uma doença, nem um espírito. É uma tendência involuntária. Muitos irmãos e irmãs buscam os anciães para conselhos e depois eles repassam os mesmos conselhos na igreja para todos os demais. Então não pensem que eu sou o único assim na Congregação. Existe uma quantidade imensa de irmãos e irmãs como eu, e que também estão buscando a Deus de coração sincero.

Resolvi fazer isto agora, meus pais, que cheguei aos 25 anos de idade. Fiquei muito tempo aguardando uma mudança, como um milagre, mas ela não veio. Sentimento é uma coisa complicada, ainda mais quando se trata de sexualidade. Imagine vocês ter que viver o resto da vida escondendo esta verdade da família. E eu também não quero mais ter que viver dando desculpas do porquê de eu não namorar esta ou aquela irmã. Aliás, eu acho que o principal motivo de eu ter estas minhas crises de nervosismo é justamente pelo fato de eu ter que viver assim, driblando estas indagações do porque eu não namoro fulana ou ciclana. Eu gostaria sim, muito, muito mesmo, de me casar e ter filhos, de ter minha família, mas eu não posso enganar uma irmã e me casar com ela sem ter um sentimento real por ela. Veja o quanto a ******* sofreu quando terminamos o namoro, mas foi melhor ela sofrer naquela época do que sofrer depois, ela e toda a família, com um casamento arruinado.

Eu não quero que vocês pensem que eu vou mudar como pessoa. Não vou mudar, vou ser o ******* que vocês sempre conheceram. Na verdade, a mudança que eu quero que haja é a de um melhor relacionamento entre eu e vocês. Não quero mais, mãe, que você pense que eu quero sair de casa por que eu não amo vocês. Eu queria sair de casa como uma forma de fuga, para poder não ser cobrado tanto sobre questões de namoro e casamento. Eu sei que estou ficando velho e que estou ficando “para trás”. Veja ai, meus melhores amigos já estão todos casados, outros namorando. E eu, sozinho, sem ninguém, e cheio de desculpas para dar. Tentem se por no meu lugar e tentar sentir na pele o que eu passo. Além de ser sozinho, ainda tenho de ficar inventando desculpas para fazer a família e os amigos felizes. Esta situação é realmente frustrante. Eu não posso namorar, de acordo com as regras, nem homem, porque religiosamente falando é errado, moralmente falando é feio, e vai contra os princípios da família, nem posso namorar mulher, porque se eu não sinto atração, a própria igreja me diz que eu devo ficar na minha e não comprometer o futuro de uma moça. Então o que devo eu fazer? Ficar o resto da vida mentindo para todos, que eu não me caso por que estou esperando uma mulher perfeita? Ou que estou muito ocupado com estudo e trabalho para pensar a respeito? Sem contar que na igreja, eu seria considerado uma “abominação” se dissesse a verdade, e corro o risco de que muita gente nem me saúde mais com a paz de Deus, que dirá com o ósculo santo. Estes são os motivos de tanta revolta e questionamentos que eu tenho produzido ultimamente.


Amo vocês e espero que vocês continuem a me amar depois de hoje.

******.