terça-feira, 29 de novembro de 2011

Pastor, eu sou gay



Fred tinha apenas 16 anos quando disse esta frase para mim. Sentado à frente da mesa do gabinete pastoral, por mais que toda a congregação sempre achasse estranho o jeito meigo e delicado de Fred, ele estava na igreja desde o nascimento. Ninguém, nem mesmo eu, acharia que isto fosse possível. Por alguns segundos, que pareceram horas, enquanto me refazia do susto, por minha cabeça passou como um filme em fast forward desde o dia em que apresentei aquele bebê a Deus.

– Bem... É... É... – Eu não sabia o que dizer. Eu não estava pronto para isso.

É muito fácil atacar o homossexualismo no púlpito, mas quando me vi diante de um jovem, dizendo o que disse, em meu gabinete pastoral, confesso que tremi por dento.

– Pode falar pastor, acho que estou preparado para qualquer coisa – me interrompeu Fred.

– Veja bem, não é isto. É que você me pegou de surpresa.

Na verdade eu não tinha nada para dizer. Eu conhecia aquele menino. Sempre deu um excelente testemunho, talvez o melhor dos crentes da minha congregação. Orava muito bem, participava dos evangelismos. Conhecia a Bíblia melhor do que todos os diáconos juntos. Cantava que era uma bênção! Como pode ser isto?



– Bem Fred – tentei começar de novo – tenho de confessar que estou desarmado. Vamos orar agora e marcamos outro dia. O assunto é complicado e não vamos resolvê-lo agora. Penso que se você veio aqui é porque quer algum tipo de ajuda.

Enquanto dizia isto, olhei nos olhos dele e pude sentir que ele queria exatamente ouvir o que acabara de dizer.

– Podemos nos falar na próxima sexta – falei quase imperativamente. Você conversou com mais alguém sobre o que acabou de me contar?

Meu medo de ele dizer sim foi enorme, mas para meu alívio, ele balançou a cabeça em sinal de negativo. Então, oramos e nos despedimos.

Depois de alguns encontros, onde tentei ganhar tempo procurando colegas mais antigos, psicólogos pastores e apelando para Deus por um milagre mosaico, como não via luz no fim do túnel, eu tive a coragem de perguntar:

– Você já... – Balancei a cabeça, franzi a testa, esperei alguns segundos...

– Não!

Por dentro eu disse: ufa! Então continuei.

– Eu não sei dizer porque isto acontece. Eu percebi toda a sua sinceridade mas para muitas coisas eu não tenho resposta. Como já te disse antes, eu quero compreender você. Eu mais do que ninguém posso testemunhar que você é um convertido ao Senhor. Eu tomei sua profissão de fé e te batizei. Infelizmente não sei explicar por qual razão seus sentimentos estão distorcidos. Mas eu quero te ajudar.

Fred me olhou com carinho. Mas antes que dissesse algo, fui em frente.

– Se você já tivesse tido relacionamentos, não sei o que seria de mim para aconselhar você, mas graças a Deus, acho que temos uma porta de escape.

Pesquisei em tudo quanto tive acesso. Ouvi gente dizer que homossexualismo é natural, é genético, é sem-vergonhice. Outros dizem que é demônio e outros que é a criação dada à criança. Sinceramente... Acho que pode ser tudo isto. E muito mais.

No caso de Fred chegamos a um consenso. Ele prometeu se manter celibatário e usar toda sua vida a serviço do Senhor, ou até que ele chegasse a um entendimento ou cura, sei lá.

Lembro de ter dito a ele que deveríamos ficar com o que temos revelado na Bíblia. O que a Bíblia condena veementemente é o ato homossexual. Como no caso de Fred ele não havia nem vivia um relacionamento homossexual, achamos que esta era a melhor solução para nós.

Ele prometeu não se envolver com garotas, pois isto poderia ser um refúgio furado, podendo não resolver o seu problema e magoar alguém. O fato é que faz 12 anos que ele está envolvido em trabalhos sociais, servindo a Deus, evangelizando e sendo uma bênção.

Se ele se curou da atração por homens? Não sei. Nunca perguntei nem ele me disse mais nada. Acho que ele vive um dia de cada vez. E eu oro, um dia de cada vez, por ele.

Ele vai para o céu? Não sei. Quem sabe é Deus. Se eu julgar pela sua confissão de fé, que permanece até hoje, pelos frutos que ele produz, tenho certeza que vamos no mesmo ônibus.

FONTE: http://www.pastorbatista.com.br

Depois de ler tudo isto, eu só tenho a perguntar: 

  • Será que este pastor, e tantos outros religiosos que lidam diretamente com casos semelhantes, ainda acha que ser gay é uma opção?
  • Será que este jovem é feliz, vivendo sem ter do seu lado alguém para amar? Como ele próprio relatou, ele é homossexual, e não assexuado. Será?
  • Será que este rapaz não mantém uma vida religiosa de fachada e uma vida clandestina aos olhos da igreja, talvez até mesmo mantendo relações promiscuas, já que ele não seria aceito se assumisse abertamente sua condição e um relacionamento com um homem que ele amasse?
  • Será? Será? Será?
Por quanto tempo mais durará  a ignorância religiosa em nome de um "Deus" que cria pessoas homossexuais para que elas sofram isoladas, amarguradas, sozinhas e oprimidas ?

domingo, 20 de novembro de 2011

Pastor De Mega Igreja Americana Sai Do Armário Aos 52 Anos

Pastor Jim Swilley Que Assumiu Ser Gay Frente A Milhares De Fiéis Afirma Estar Em Paz Com Deus

Pastor Jim Swilley que assumiu ser gay frente a milhares de fiéis afirma estar em paz com Deus

Um mês depois de sair de sua congregação como gay, um pastor Jim Swilley da Geórgia disse que nunca esteve mais feliz ou mais em paz com Deus e consigo mesmo.

“Eu tenho favor diante de Deus e do homem, e os pontos positivos na minha vida até agora superam os negativos, que eu não posso pensar em mim de outra forma, mas abençoada,” Bishop Jim Swilley da Igreja Church in the Now, disse em seu blog na terça-feira. “Estou cercado de amor, mesmo em meio à perseguição esperada”.

Foi em 13 de outubro, quando ele disse à sua congregação que ele era gay. O homem de 52 anos, que fundou a Igreja Church in the Now, explicou que duas coisas lhe foram dadas em sua vida as quais ele não pediu – o chamado de Deus em sua vida e sua orientação sexual.

Swilley, que foi casado duas vezes e tem quatro filhos, deu uma série de entrevistas mês passado, contando o dia que assumiu ser gay, afirmando sua crença de que alguém não pode deixar de ser gay.

Foi a sua ex-esposa, Debye Swilley, que o encorajou a ser “verdadeiro” com a congregação, em conformidade com o lema da Igreja: “Pessoas reais Experimentando o Deus Real no Mundo Real.”

Os dois foram casados 21 anos. Debye, a co-pastora da mega-igreja, sabia que o Bispo Swilley era gay antes de se casar. Ela insistiu que eles estavam apaixonados e que seu casamento não foi uma farsa.

Bispo Swilley disse à CNN, no entanto, que “em certo ponto, você é quem você é. Fui contra a minha natureza.”

O pastor pentecostal disse que sabia que era gay desde que tinha quatro anos.

Desde que assumiu ser gay, Swilley se recusou a participar de qualquer debate teológico sobre a homossexualidade.

“Eu não tenho desejo de me defender ou descutir as Escrituras com aqueles que não estariam abertos a qualquer coisa que eu teria para dizer. A integridade não pode ser provada, deve ser dicernida,” escreveu ele em seu blog.

Durante uma entrevista anterior à CNN, ele diz que inicialmente sentiu o chamado de Deus em sua vida e sua orientação sexual não eram compatíveis. Mas ele não respondeu à pergunta do The Christian Post para explicar a sua atual postura teológica.

Na terça-feira, no entanto, ele promoveu uma breve discussão em seu blog.

Ele afirmou que estava “ciente” do que a Bíblia chama de “abominação. “Mas acrescentou: “Aqui está uma pequena lista de algumas das coisas que a Bíblia chama de abominação…” e percorreu uma a lista de cerca de três dezenas de coisas, incluindo a trapaça, o orgulho de coração, a testemunha falsa, e comer coisas impuras.

“Eu poderia continuar, mas basta dizer que, provavelmente somos todos culpados de cometer abominações regularmente (já teve um olhar orgulhoso em seu rosto, ou come carne de porco?), “Por isso precisamos manter o uso dessa palavra em perspectiva,” escreveu ele. “Graças a Deus pelo Cordeiro de Deus que tirou o pecado do mundo!”

Em suas entrevistas, Swilley também deixou claro que ele não acredita que alguém poderia ser “liberto de ser gay” ou mudar sua orientação sexual.

O reverendo Tom Brock, que foi assumiu sua luta contra a atração pelo mesmo sexo, no início deste ano pela revista GLBT (gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros) Lavender, discorda. Há alguns que acham ser um tipo de liberdade, disse ele, e outros que simplesmente optam por não atuarem em seus desejos, inclusive ele próprio.

“Eu tenho a luta de atração pelo mesmo sexo em minha vida, mas você escolhe isso? Não sei se alguém escolhe suas tentações,” disse ele ao Christian Post.

“Minha opinião é que nós todos nascemos dos pecadores por causa do pecado de Adão – o pecado original – e ele assume diferentes formas e você não pode escolher conscientemente as tentações da vida, mas você escolhe o que fazer com eles,” disse ele.

“Eu não sei onde esse bispo está espiritualmente, mas se ele é da opinião que você pode se envolver em comportamento homossexual e ainda seguir a Cristo, ele está errado,” Brock, ex-pastor da Igreja Luterana Esperança em Minneapolis, sustenta.

Brock é um virgem de 57 anos que continua a lutar contra os desejos de pessoas do mesmo sexo, mas ele disse que ainda diz não a eles por amor de Cristo.

O Bispo Swilley saiu do Colégio dos Bispos da Comunidade Internacional da Igreja Carismática e já não está mais afiliado a organização. Ele está, no entanto, em diálogo com outra rede internacional sobre possível ordenação e filiação. Enquanto isso, ele continua a pastorear a Igreja Chuch in the Now. Com muito apoio de sua congregação, ele disse que pretende manter a pregação sobre a graça, amor e tolerância.


FONTE: Adoração Gospel

Jogador americano se assume gay publicamente

David Testo, jogador da MLS, assume homossexualidade

Meia do Montreal Impact conta que companheiros já sabiam que ele era gay


David Testo, meia do Montreal Impact, decidiu tornar pública sua homossexualidade. O jogador de 30 anos fez a revelação à CBC Radio-Canadá, frisando que seus companheiros de clube já sabiam.
- É como transportar em torno de um segredo, e nunca ter a permissão para ser você mesmo – disse Testo, que afirmou se sentir mais confiante e seguro após a revelação.
Joey Saputo, presidente do Montreal Impact, se pronunciou por intermédio de um comunicado oficial, apoiando a decisão do jogador.
- A declaração de David Testo é de fato muito pessoal. Sabíamos de sua orientação antes de ele se juntar ao nosso clube em 2007 – salientou o dirigente.
Nascido na Carolina do Norte, David Testo começou profissionalmente em 2003 no Richmond Kickers, da Virgínia. No ano seguinte, transferiu-se para o Columbus Crew e em seguida para os canadenses Vancouver Whitecaps e Montreal Impact.

sábado, 19 de novembro de 2011

Uma carta ao Superior Tribunal de Justiça



Aos Meritíssimos Ministros do STJ

Eu apoio a aprovação do Casamento Civil Homossexual. 

Duas pessoas se casam quando elas buscam a felicidade afetiva mutua, e não a procriação. Se não fosse assim, o casamento civil deveria ser banido aos estéreis. Recentemente testemunhei o casamento de um homem paraplégico com uma mulher saudável. Este homem não possui suas funções sexuais devido a um acidente que sofrera anos atrás, mas isto não o impediu de buscar a felicidade ao lado da pessoa amada, neste caso, uma mulher. Se a Justiça permite um casamento nestas condições, por que não permitir que duas pessoas do mesmo sexo compartilhem suas vidas dentro da Lei? Procriação é uma consequência na vida de grande parte dos casais, mas não de todos. A propósito, não é preciso estar casado para garantir a perpetuação da espécie humana. O número de mães solteiras é altíssimo em nosso país, as quais, diga-se de passagem, possuem direitos legais tanto quanto as mães casadas. 

Religiosos que se opõem ao casamento gay desconsideram a progressão dos direitos concedidos às mulheres, que outrora nem votar podiam. Hoje elas podem chegar à Presidência da República. Até pouco tempo elas não eram nem mesmo consideradas cidadãs, hoje representam nações de dimensões continentais, como o nosso Brasil. 

Cidadãos Brasileiros não podem ser privados de seus direitos sob a alegação de liberdade religiosa. Dentro dos templos cada igreja tem o direito de estabelecer suas doutrinas. Aqui fora todos devem ter o Direito de escolher como viver suas vidas, e cabe à Justiça Brasileira garantir este Direito. Igrejas não podem legislar nem julgar casos de cidadãos que pouco estão interessados em suas teologias, nem cidadãos não religiosos podem impor obrigações às igrejas. As igrejas não são obrigadas a celebrar matrimônios de homossexuais, assim como elas também não são obrigadas a celebrar matrimônios de pessoas que não pertencem ao seu núcleo religioso, ou pessoas que estão se casando pela segunda ou terceira vez. O que os homossexuais querem são apenas seus direitos civis garantidos. Peço, portanto, a aprovação do casamento homossexual. 

Mui respeitosamente,
Brandon

Ser Gay é Pecado?

Entrevista completa da Revista Carta Capital, publicada em 11/11/2011 e realizada com diversos religiosos cristãos, abordando o assunto da Fé versus Homossexualidade

Em seu programa de tevê e nos cultos, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus, um dos maiores porta-vozes do conservadorismo religioso no País, costuma repetir a ladainha: “Homossexualidade na Bíblia é pecado. Pode tentar, forçar, mas é pecado”. Mas será mesmo pecado ser gay? Não, contestam, baseados na interpretação da mesma Bíblia, sacerdotes cristãos, tanto católicos quanto evangélicos. Para eles, a mensagem de Jesus era de inclusão: se fosse hoje que viesse à Terra, o filho de Deus teria recebido os homossexuais de braços abertos.
A representação de São Sérgio e São Baco, símbolos da causa LGBT

“Orientação sexual não é o que vai definir a nossa salvação”, afirma o bispo primaz da Igreja Anglicana no Brasil, dom Maurício Andrade. “É muito provável que as pessoas homoafetivas fossem acolhidas por Jesus. O Evangelho que ele pregou foi de contracultura e inclusão dos marginalizados”, opina. Segundo o bispo, ao mesmo tempo que não há nenhuma menção à homossexualidade no Novo Testamento, há várias passagens que demonstram a pregação de Jesus pela inclusão. Não só o conhecido “quem nunca pecou que atire a primeira pedra” à adúltera Maria Madalena.
"A orientação sexual não é o que vai definir a nossa salvação", diz dom Maurício Andrade, bispo primaz da Igreja Anglicana. Foto: Sergio Amaral

No Evangelho de João, capítulo 4, Jesus está a caminho da Galileia, partindo de Jerusalém. Cansado, decide descansar ao lado de um velho poço, em plena região da Samaria, cujos habitantes eram desprezados pelos judeus. E inicia conversação com uma mulher samaritana que vinha buscar água, e lhe oferece a salvação da alma, para espanto de seus próprios apóstolos, que a consideravam ímpia. Também quando Jesus vai à casa de Zaqueu, o coletor de impostos decidido a passar a noite lá, os discípulos murmuram entre si que se hospedaria “com homem pecador”. Mas Jesus não só o faz como também oferece a Zaqueu, homem rico tido como ladrão, a salvação. “Hoje veio a salvação a esta casa, por este ser também filho de Abraão.”

“Jesus inaugura o momento da Graça, os Evangelhos atualizam vários trechos do Velho Testamento. Ou alguém pode imaginar apedrejar pessoas hoje em dia?”, questiona dom Maurício, para quem a interpretação da Bíblia deve se basear no tripé tradição, razão e experiência cotidiana. “Quem interpreta que a Bíblia condena a homoafetividade está sendo literalista. Cada texto bíblico está inserido num contexto político, histórico e cultural, não pode ser transportado automaticamente para os dias de hoje. Além disso, a Igreja tem de dar resposta aos anseios da sociedade, senão estaremos falando com nós mesmos.”

Também anglicano, o arcebispo Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984, lançou em março deste ano o livro Deus Não É Cristão e Outras Provocações, que traz um texto sobre a inclusão dos cidadãos LGBT à Igreja e à sociedade. Para Tutu, a perseguição contra os homossexuais é uma das maiores injustiças do mundo atual, comparável ao apartheid contra o qual lutou na África do Sul. “O Jesus que adoro provavelmente não colabora com os que vilipendiam e perseguem uma minoria já oprimida”, escreveu. “Todo ser humano é precioso. Somos todos parte da família de Deus. Mas no mundo inteiro, lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros são perseguidos. Nós os tratamos como párias e os fazemos duvidar que também sejam filhos de Deus. Uma blasfêmia: nós os culpamos pelo que são.”

Nos Estados Unidos, a Igreja Anglicana foi a primeira a ordenar um bispo homossexual, em 2004. “Não por ser gay, mas porque a Igreja reconheceu o serviço e o ministério dele”, alerta dom Maurício. Foi com base na demanda crescente de respostas por parte dos fiéis homossexuais ou com -parentes e amigos gays que os anglicanos começaram a rever suas posturas, a partir de 1997. No ano seguinte, foi feita uma recomendação para que os homoafetivos fossem escutados, embora a união de pessoas do mesmo sexo ainda fosse condenada e que se rejeitasse a prática homossexual como “incompatível” com as Escrituras.

No Brasil, onde possui mais de 60 mil seguidores, a Igreja Episcopal Anglicana realizou em 2001 a primeira consulta nacional sobre sexualidade, quando seus fiéis decidiram rejeitar “o princípio da exclusão, implícito na ética do pecado e da impureza”, e fazer uma declaração pública em favor da inclusividade como “essência do ministério encarnado de Jesus”. Em maio deste ano, os anglicanos divulgaram uma carta de apoio à decisão do Supremo Tribunal Federal de permitir a união civil entre pessoas do mesmo sexo, baseados não só na defesa da separação entre Estado e Igreja como no reconhecimento de que as relações homoafetivas “são parte do jeito de ser da sociedade e do ser humano”.

Com o reconhecimento pelo Superior Tribunal de Justiça, em 25 de outubro, da união civil de duas lésbicas, é possível que a intolerância religiosa contra os homossexuais volte a se acirrar. No Twitter, Malafaia atiçava os seguidores a enviar e-mails aos juízes do Tribunal pedindo a rejeição do recurso. Em vão: a união entre as duas mulheres gaúchas, juntas há cinco anos, ganhou por 4 votos a 1.

Homossexual, o padre Alison não tem função como pároco.  Foto: Olga Vlahou

A partir da primeira decisão do STF, foi criada, informalmente até agora, uma frente religiosa pela diversidade sexual, que reúne integrantes de diversas igrejas: batistas, metodistas, anglicanos, luteranos, presbiterianos, católicos e pentecostais. Coordenador do grupo, o metodista Anivaldo Padilha (pai do ministro da Saúde, Alexandre Padilha) diz que a homossexualidade é hoje um dos temas que mais dividem as igrejas, tanto evangélicas quanto católicas. “Quem alimenta o preconceito são as lideranças. Os fiéis manifestam dificuldade em obter respostas, porque no convívio com amigos, colegas ou mesmo parentes que sejam homossexuais não veem diferença.”

Mais: segundo Padilha, a proporção de homossexuais entre os evangélicos é bastante similar à da sociedade brasileira como um todo. Sua convicção vem da pesquisa O Crente e o Sexo, do Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã, entidade que possui o maior banco de dados com e-mails de evangélicos brasileiros – mais de 1,6 milhão. Na pesquisa, foram ouvidos pela internet 6.721 solteiros evangélicos de todo o País, entre 16 e 60 anos. Os resultados, divulgados em junho deste ano: 5,02% dos evangélicos tiveram uma experiência homossexual e 10,69% disseram desejar experimentar ter relações com pessoas do mesmo sexo.

Uma pesquisa feita em 2009 pelo Ministério da Saúde com os brasileiros em geral apontou que 7,6% das pessoas- entre 15 e 64 anos haviam tido relações com o mesmo sexo na vida. Quer dizer, a diferença entre os hábitos sexuais dos crentes e do resto da população é quase nula. “A questão não é teológica”, argumenta Padilha. “O que existe é que esse tema tem sido utilizado politicamente pela direita brasileira. Como não existe mais o comunismo, conseguem manipular a opinião pública assim. Eles têm o direito de expressar opiniões, mas não se pode impor ao Estado conceitos de pecado que não dizem respeito aos que professam outras religiões, ou nenhuma.”

De acordo com historiadores, a posição religiosa em relação à homossexualidade mudou ao longo dos séculos: de mais tolerante para menos. O americano John Boswell, pesquisador da Universidade Yale que morreu de Aids- aos 47 anos em 1994 e que dedicou a vida acadêmica a investigar a homossexualidade relacionada ao cristianismo, afirmava que a Igreja Católica não condenou as relações entre o mesmo sexo até o século XII. Ao contrário: o historiador, contestado por alguns e aclamado por outros, revelou no livro O Casamento entre Semelhantes – Uniões entre pessoas do mesmo sexo na Europa pré-moderna (1994) a existência de manuscritos que comprovam a celebração de rituais matrimoniais religiosos durante toda a Idade Média por sacerdotes católicos e ortodoxos para consagrar uniões homossexuais.

Nos 80 manuscritos descobertos por Boswell sobre as bodas gays entre os primeiros cristãos, invocava-se como protetores os santos católicos Sérgio e Baco, tidos como homossexuais. Celebrados no dia 7 de outubro, São Sérgio e São Baco aparecem juntos em toda a iconografia religiosa a partir do século IV depois de Cristo e atualmente são objeto de homenagem de vários artistas plásticos ligados ao movimento LGBT. Soldados do imperador romano Maximiano, foram ambos martirizados por se recusar a entrar em um templo e adorar Júpiter. Baco, flagelado com chicotadas, morreu primeiro. Uma crônica, provavelmente do século- X, conta que Sérgio “com o coração enfermo pela perda de Baco, chorava e gritava: ‘te separaram de mim, foste ao Céu e me deixaste só na Terra, sem companhia nem consolo’”.

Em fevereiro deste ano, o pesquisador e professor de Literatura Carlos Callón, da Universidade de Santiago de Compostela, na Espanha, foi premiado pelo ensaio Amigos e Sodomitas: A configuração da homossexualidade na Idade Média, onde conta a história de Pedro Díaz e Muño Vandilaz, protagonistas do primeiro matrimônio homossexual da Galícia, em 16 de abril de 1061. No documento, o casal compromete-se a morar juntos e se cuidar mutuamente “todos os dias e todas as noites, para sempre”. Segundo Callón, há muitos relatos semelhantes, inclusive com rituais religiosos similares aos heterossexuais, com a diferença de que as bênçãos faziam alusão ao salmo 133 (“Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos”), ao amor de Jesus e João ou a São Sérgio e São Baco.

Sem dogmatismo: Gondim, evangélico contra os excessos neopentecostais. Foto: Olga Vlahou

“Trato também na pesquisa de como na lírica ou na prosa galego-portuguesa medievais aparecem alguns exemplos de relações entre homens”, diz o professor. “As relações homossexuais são documentáveis em todas as épocas, o que houve foi um processo de adulteração, de falsificação da história, para nos fazer pensar que não.” Outro dado importante ressaltado pelo pesquisador é que a perseguição contra os homossexuais vem originalmente do Estado. Só mais tarde a Igreja se converteria na principal fonte do preconceito.

“Os traços básicos do preconceito contra a homossexualidade tiveram sua origem na Baixa Idade Média, entre os séculos XI e XIV. É nessa altura que emerge a intolerância homofóbica, desconhecida na Antiguidade. Inventa-se o pecado da sodomia, inexistente nos mil primeiros anos do cristianismo, a englobar todo o sexo não reprodutivo, mas tendo como principal expoente as relações entre homens ou entre mulheres. Com o tempo, passará a ser o seu único significado”, explica Callón.

De fato, a palavra “sodomia” para designar o coito anal em geral e as relações homossexuais em particular, e ao que tudo indica foi introduzida na Bíblia por seu primeiro tradutor ao inglês, o britânico John Wycliffe (1320-1384). Wycliffe traduziu o termo grego arsenokoitai como “pecado de Sodoma”. Daí a utilização da palavra “sodomita” para designar os gays, o que acabou veiculando-os para sempre com o relato bíblico das pecadoras cidades de Sodoma e Gomorra, destruídas por Deus com fogo e enxofre para punir a imoralidade de seus habitantes. Mas o significado real de arsenokoitai (literalmente, a junção das palavras “macho” e “cama”) é ainda hoje alvo de controvérsia.

O próprio termo “homossexual” para designar as pessoas que preferem se relacionar com outras do mesmo sexo é recente: só passou a existir a partir do século XIX. A versão revisada em inglês da Bíblia, de 1946, é a primeira a utilizá-lo. Isto significa que as menções à “homossexualidade”, “sodomia” e “sodomitas” nas escrituras seriam mais uma questão de interpretação do que propriamente de tradução.

“A Bíblia, infelizmente, tem sido usada para defender quaisquer posicionamentos, desde a escravidão (sobram textos que legitimam a escravatura) ao genocídio”, opina o pastor Ricardo Gondim, da Igreja Betesda de São Paulo, protestante. “Como o sexo é uma pulsão fundamental da existência, o controle sobre essa pulsão mantém um fascínio enorme sobre quem procura preservar o poder. Assim, o celibato católico e a rígida norma puritana não passam de mecanismos de controle. O uso casuístico das Escrituras na defesa de posturas consideradas conservadoras ou ‘ortodoxas’ não passam, como dizia Michel Foucault, de instrumentos de dominação.”

“Um teólogo que eu admiro muito, Carlos Mesters, costuma dizer que a Bíblia é uma flor sem defesa. Dependendo da mão e da intencionalidade de quem a usa, a posição mais castradora ou a mais libertadora pode ser defendida usando-a”, concorda a pastora Odja Barros, presidente da Aliança de Batistas do Brasil, espécie de dissidência da Igreja Batista que aceita homossexuais entre seus integrantes – são seis igrejas no País. Tudo começou há cinco anos, conta Odja, quando se colocou diante de sua igreja, em Maceió, o desafio: um homossexual converteu-se e não queria abrir mão de seu gênero. Foi uma pequena revolução. Alguns integrantes deixaram a Igreja, outros se juntaram a ela, e houve fiéis que, animados, também resolveram se revelar homossexuais. “Em todas as comunidades evangélicas existem gays, mas são reprimidos”, afirma a pastora.

"A sociedade caminhou mais rápido e é um desafio à Igreja, quando deveria ser o contrário", diz Odja Barros. Foto: Thalita Chargel

Um dos pontos principais para a compreensão da questão à luz da Bíblia, de acordo com Odja Barros, é desconstruir as leituras mais hegemônicas, patriarcais, que afetam a vida não só dos gays, como das mulheres. Há trechos, por exemplo, que justificam a submissão e a violência contra a mulher. A própria Odja só se tornou pastora graças a essa releitura. “As pessoas vêm me dizer que sou feminista, que sou moderna, mas me sinto muito fiel a algo -muito -antigo, que é a defesa da dignidade do ser humano sobre todas as coisas. O Evangelho tem a ver com esses valores”, argumenta. “A sociedade caminhou mais rápido e é um desafio à Igreja, quando deveria ser o contrário.”

Entre os católicos, curiosamente, a homossexualidade não é vetada a partir da Bíblia, mas a partir da concepção de que seria antinatural, ou seja, fora do objetivo da procriação. É assim, até hoje, que prega a Igreja, daí a condenação também ao uso de contraceptivos como a camisinha. Tudo isso vem de uma época em que se conhecia muito pouco de biologia. A descoberta do clitóris como fonte do prazer feminino, por exemplo, é do século XVI. O ovário, que sacramentou a diferença entre homem e mulher, só foi descoberto no século XVIII. Até então, pensava-se que a mulher era um homem em desvantagem, um corpo masculino “castrado”.

“Além disso, hoje temos conhecimento de uma gama impressionante de comportamentos sexuais entre os animais, o que inclui homossexualidade e hermafroditismo”, defende o padre católico James Alison, britânico radicado em São Paulo. Homossexual assumido, Alison conta que se situa numa espécie de “buraco negro” em que se encontram, segundo ele, muitos padres católicos gays: sem função como párocos, não estão subordinados a bispos e, por isso mesmo, escapam de sanções da Igreja. O padre, que vive como teólogo, compara a homossexualidade a ser canhoto. Ou seja, um porcentual- da população nasceria -homossexual, assim como nascem pessoas que escrevem com a mão esquerda. “Aproximadamente 9,5% das pessoas são canhotas e isso também já foi considerado uma patologia.”

Alison conta que a Igreja Católica faz um malabarismo ideológico para sustentar a proibição de ser homossexual-, pois no ensino teológico do Vaticano o fato em si não é considerado pecado. “Eles dizem que ‘enquanto a inclinação homossexual não seja em si um pecado, é uma tendência para atos intrinsecamente maus’, uma coisa confusa e insustentável a essa altura.” O padre acredita, porém, que a aceitação da homossexualidade pelos católicos melhorou sob Bento XVI. “Neste tema, os prudentes calam e os burros gritam. João Paulo II promovia os gritões. Hoje a tendência é prudência. Já não se veem bispos falando publicamente que é uma patologia. Se a Igreja reconhecer que não há patologia, será natural reconhecer a homossexualidade. É um lado bom de Ratzinger, mas tudo isso ocorre caladamente, nos bastidores da Igreja.”

Para o padre, a falta de discussão no catolicismo sobre a homossexualidade “emburreceu” as pessoas para o debate em torno da pedofilia, que tanto tem causado danos à imagem da Igreja nos últimos anos. Daí a reação lenta diante das denúncias. E também se tornou um obstáculo à evangelização. “A homofobia instintiva já não é mais realidade, há cada vez mais solidariedade fraterna concreta. Muitos jovens são por natureza gay friendly. E se perguntam: por que seguir Jesus se tenho de odiar os gays?”


Fonte: Carta Capital

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Teólogo Ricardo Gondim e sua posição "Civíl" sobre a união homossexual

Pastor e Teólogo Ricardo Gondim responde

Perguntado se era favor da união civil entre homossexuais, sua resposta foi contundente: “Sou a favor. O Brasil é um país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis.



A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossexuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade”.
Além de muitas críticas de outros pastores por conta desta posição, isso fez com que o pastor Gondim deixasse, após muitos anos, de ser colunista da revista Ultimato.
Dizendo-se o “herege da vez”, na mesma reportagem, Gondim explicou seu desgaste com os demais pastores por conta de suas posições teológicas a respeito de outras declarações suas a respeito da natureza de Deus e a interpretação da Bíblia.
O Brasil vive um clima de “guerra” declarada na luta pelos direitos da comunidade gay e a postura ferrenha dos pastores que veem nisso uma tentativa de destruir a família tradicional. Se por um lado a violência contra os homossexuais tem sido constantemente denunciada de forma acertada e o discurso religioso apontado [para alguns, de maneira equivocada] como um dos causadores, por outro, a tentativa de proibir qualquer expressão de pensamento contrário à prática homossexual é visto como censura.
Há, de fato, um elemento complicador nesse debate. Por isso, ao que nos parece, um consenso está longe de ser alcançado.
No início deste mês, em outra matéria da revista Carta Capital que questionava “Ser gay é pecado?”, Gondim voltou a falar sobre a questão homossexual. Sua declaração pareceu ambígua:
“A Bíblia, infelizmente, tem sido usada para defender quaisquer posicionamentos, desde a escravidão (sobram textos que legitimam a escravatura) ao genocídio. Como o sexo é uma pulsão fundamental da existência, o controle sobre essa pulsão mantém um fascínio enorme sobre quem procura preservar o poder. Assim, o celibato católico e a rígida norma puritana não passam de mecanismos de controle. O uso casuístico das Escrituras na defesa de posturas consideradas conservadoras ou ‘ortodoxas’ não passam, como dizia Michel Foucault, de instrumentos de dominação”.
Sem tomar posição sobre ser ou não ser pecado (a pergunta levantada pela revista), ele se exime de uma declaração teológica, optando por tratar o assunto dentro da esfera das “relações de poder”.
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Certamente entre os evangélicos brasileiros existe quem tome um partido ou outro. Como em tantas outras questões, não há uma posição única no meio protestante. O que parece ser a questão principal é como a interpretação de textos bíblicos usada até hoje continuará sendo ensinada.
No momento em que as autoridades governamentais passam a reconhecer  a possibilidade de casamento entre pessoas do mesmo sexo, resta às igrejas apenas ensinar a maneira como cada uma crê. O grande dilema de nossos tempos, evidenciado mais uma vez nessa matéria da revista, é que as vozes dissonantes dentro da igreja evangélica mais confundem do que esclarecem os “de fora”.
Ao mesmo tempo em que há pastores e pastoras defendendo que uma pessoa não precisa mudar de opção sexual, outros tantos não abrem mão de lembrar a necessidade de um novo nascimento.
Quando uma revista secular se dispõe a perguntar a cristãos de diferentes tradições se “Ser gay é pecado?” e ouve ao mesmo tempo, “sim”, “não” e “depende”, é sinal de que o conceito de pecado já não é mais o mesmo para os evangélicos brasileiros.
Fonte: www.gospelprime.com.br