terça-feira, 30 de abril de 2013

Qual a sua Condição Sexual?


Por Jonatas Silva Macedo
Certa ocasião, fui questionado sobre qual seria minha opção sexual. Respondi: "Nenhuma".

Questionado sobre minha orientação sexual, respondi: "Hétero".

Isso porque "opção" é algo pelo qual se opina e eu não optei por ser como sou. E "orientação" é aquilo pelo qual fomos orientados ser, e eu como todos fui orientado a ser hétero.

Quando se fala em condição sexual se fala da forma que somos. Algo pelo qual não optamos ou fomos orientados a ser, simplesmente nascemos assim.

Ninguém opta por ser hétero, gay, bissexual etc. Você pode optar viver sobre alguma dessas condições, porém, dentro de você os seus desejos pedirão por aquilo que você deseja de verdade.

Quando percebemos que somos diferentes, que nascemos sobre uma condição diferente da maioria, somos orientados por muitos a nos adaptar e a viver como os demais. Mais isso também é inútil. Ninguém é feliz vivendo o que não é. Não se aceitando como é.

Crescemos com a crença de que o certo é ser hétero, qualquer outra condição é errada, contra as leis de Deus, é semvergonhice, opção, um demônio. Qualquer outra coisa, menos uma condição sobre a qual nascemos.

Me vêm em mente algumas perguntas:

"Quem gosta de sofrer preconceito?", "Quem gosta de ser rejeitado?", "Quem gosta de ser apontado como pederasta, promíscuo, endemoniado, semvergonha etc?" Ninguém.

É difícil para um gay, uma lésbica, um bissexual se aceitar, quando se vive em uma sociedade onde estão taxados o "certo" e o "errado".
Quando nos descobrimos diferentes, ficamos assustados, com medo. Procuramos ser iguais, viver como os demais. Mas não conseguimos. Percebemos que não estamos comento crime algum em sermos nós, em sermos como somos. Não há o que mudar, do que se libertar. Nascemos assim.

Podemos camuflar, criar uma vida fictícia moldada aos exemplos da sociedade, mas seremos infelizes, amargurados. Só se é feliz quando se aceita e se vive como é.

Quando me descobri gay, passei por crises de busca de libertação, não aceitação. Era difícil para um adolescente vindo de um família evangélica, filho de pastor, se aceitar como gay.

Com o tempo fui conquistando minha independência, conhecendo pessoas e pessoas, analisando o meu caráter, meus objetivos. Percebi que existem gays na polícia, na Marinha, no Exército, na Aeronáutica, assim como existem héteros. Existem gays médicos, advogados, professores, assim como existem héteros. Existem gays na política, gays ladrões, promíscuos que só vivem de sexo e para o sexo, assim como existem héteros.

Ser gay só diferencia a forma do prazer sexual e conjugal que é sentido pelo igual, fora isso somos todos iguais.

Me aceitando como eu era, tinha chegado a hora de minha família e amigos me conhecerem a fundo e me aceitarem também. Precisei antes conquistar minha independência. Cada caso é um caso e para cada ação existe uma reação. Se eu fosse rejeitado, eu precisava ter uma segurança.

Contei para todos do meu convívio. Para os que questionavam o fato de eu ser gay, eu questionava o fato de eles serem héteros. Quem pedia para eu tentar ser hétero eu pedia para tentar ser gay, se eles conseguissem ser gays, eu também conseguiria ser hétero.

Dizia isso para fazê-los entender que ninguém vive sob orientação ou opção sexual, vivemos sob a condição sobre a qual nascemos. Gays, héteros, lésbicas, bissexuais...
http://jonatassilvamacedo.blogspot.com

domingo, 28 de abril de 2013

Primeiro culto de 'igreja gay' em São Paulo é animado e dura 2h30

Igreja Cristã Contemporânea de São Paulo, fundada no sábado (27), contou com a presença de casal que celebrou sua união em programa de Pedro Bial
Congregação, conhecida popularmente como a igreja gay, já possui seis unidades no Rio de Janeiro(Foto: Silvana Garzaro)

“Tá com a chave da vitória, hein!”

“Amém!”

As boas-vindas no primeiro culto da Igreja Cristã Contemporânea em São Paulo vieram como elogio ao pingente em formato de chave que uma mulher usava no pescoço. O enfeite também pode representar o símbolo de uma luta que a congregação, nascida no Rio, defende há pelo menos seis anos, quando foi fundada: uma sociedade livre de preconceitos, principalmente contra homossexuais.
Ocorrida no sábado (27), a celebração teve início pontualmente às 19h e foi acabar quase às 22h. Mais de 200 pessoas estiveram presentes na inauguração da primeira unidade paulista da igreja, localizada à Rua Platina, 190, n
o Tatuapé. A maioria dos presentes eram homens do Rio de Janeiro, que vestiam terno e gravata. Lotaram três ônibus especialmente para vir conferir a inauguração. Alguns moradores da capital também marcaram presença – e foram tomados por uma grande emoção ao longo do culto.
Culto da Igreja Cristã Contemporânea de São Paulo recebe mais de 200 pessoas

(Foto: Silvana Garzaro)
 A presença de Deus é algo que nos enche e nos emociona”, disse o empresário Rickardo Lima, de 37 anos, que durante quase toda a cerimônia chorou, com os olhos fechados e os braços abertos. “Eu já os conhecia do Rio. Sem dúvida, vou me tornar um membro da igreja.”
A congregação, conhecida popularmente como a igreja gay, já possui seis unidades no Rio de Janeiro (a primeira foi em Madureira, onde hoje funciona a sede), uma em Belo Horizonte e agora esta em São Paulo. Fundada pelo casal Fabio Inácio de Souza, de 33 anos, e Marcos Gladstone, de 37, ela se difere das demais igrejas evangélicas unicamente pelo fato de ser inclusiva. “Um dos louvores que entoamos diz justamente que ‘você não nasceu para sofrer’”, diz Fabio. “Eu entrei para a igreja achando que Deus não me amava, como muitos que chegam até nós ainda acreditam.” Sendo inclusiva, a Igreja Cristã Contemporânea pretende portanto agregar tanto heteros, quanto homossexuais.
Em nome dos pais, das mães e dos filhos
Tanto Fabio, quanto Marcos foram noivos anteriormente de mulheres por quatro anos. Há quase sete anos casados (conheceram-se pouco tempo depois de a igreja ter sido erguida), adotaram juntos dois filhos – Felipe, de 9 anos, e Davidson, de 10 -, há pouco mais de dois anos. Durante a entrevista concedida aVEJASAOPAULO.COM, os meninos iam e vinham distribuindo abraços e beijos carinhosos nos pais. “Para eles, ter dois pais é algo natural.”
Davidson e Felipe não eram as únicas crianças no primeiro culto paulista. Ana Beatriz, de 4 anos, também estava acompanhando as mães, a manicure Izabel Betiany e a operadora de telemarketing e pastora Lucia Carrilho, responsável pela unidade de Caxias (RJ), da Igreja Contemporânea. Elas possuem a guarda compartilhada da menina junto com a mãe biológica. Ana Beatriz chegou até elas por meio da Amovi (Associação Amor e Vida em Assistência à Criança e ao Idoso), projeto social fundado por Lucia que atende atualmente 40 crianças carentes e 24 idosos.
“A Maria Cristina, mãe da Ana Beatriz, tem outros quatros filhos e não tem condição de criá-la”, explica Lucia. “Cuidamos dela desde os seus 10 meses e ela sempre vai visitar e passar um tempo com a mãe biológica. Ana Beatriz diz sempre que tem três mães.” Segundo a pastora, a menina adora a igreja e fala com naturalidade sobre os “companheiros” dos amigos de suas mães.
Lucia fundou o projeto social depois de conseguir largar as drogas: foi viciada em cocaína durante sete anos, metade do tempo em que está ao lado de sua mulher. “Da condição de ‘cuidada’ passei a cuidar. Hoje tenho 106 membros na igreja onde ministro, em Caxias. Não tenho palavras para dizer quão gratificante é essa experiência”, afirma.
“As promessas do pai vão se cumprir na sua vida”
O culto foi bastante animado: as canções de louvor, cujas letras eram projetadas na parede decorada com um céu azul entre nuvens, foram acompanhadas por uma banda ao vivo (com guitarra, violão, bateria e sopros) e um coro. O som serviu como trilha de uma peça sem diálogos, que rapidamente encenou a paixão, a morte e a ressurreição de Cristo. Havia também um coro formado por quatro pessoas. Os estilos variaram do pop ao rock, passando até pelo samba.
As pessoas, em sua maioria, pareciam saber as músicas de cor e, por isso, não faziam questão de manter os olhos abertos: dançavam com os braços para cima e a cabeça abaixada, cantando bem alto. No meio disso, um cumprimento desejava ao próximo o melhor, que ainda estava para acontecer: “As promessas do pai vão se cumprir na sua vida” (seria o equivalente à “paz de Cristo” da Igreja Católica, mas com direito a abraços, sorrisos e beijos no rosto). Os que estavam com o seu companheiro ao lado entoavam os hinos abraçados. Duas engajadas mulheres levaram seu próprio pandeiro para ajudar no tom do culto, da plateia mesmo.
No controle de todo este som estava a secretária Aline Peixoto, de 35 anos, casada há 18 anos com a pedagoga Simone Queiroz, de 46, uma das vozes do coro oficial. As duas ficaram conhecidas nacionalmente depois de celebrarem o seu amor no palco do programa Na Moral, de Pedro Bial, em julho do ano passado. “Cerca de 85% das pessoas que vieram falar com a gente depois que aparecemos na TV tiveram uma reação positiva. Foi muito show, quase um desfile de miss”, diverte-se Simone.
Os outros 15%... bem, não fizeram muita diferença. “A pessoa pode até carregar um preconceito dentro dela. Mas é você que tem o poder de sentir esse preconceito ou ignorá-lo”, diz Simone, para em seguida ser complementada por Aline: “Ainda falta amor ao próximo.” Simone tem dois filhos do primeiro casamento – Ana Carolina, de 24 anos, e Rodrigo, de 19 -, mas ainda pensa em adotar mais um com Aline.
Mais para o fim do culto, era chegada a hora do dízimo. Envelopes amarelos (a mesma cor da igreja) foram entregues a todos os presentes, para colocarem ali o valor que julgassem justo. Os membros que estavam sentados perto da reportagem de VEJASAOPAULO.COM devolveram os envelopes vazios. As máquinas de cartão de crédito e débito pouco foram utilizadas também.
Ao encerrar o culto de cerca de duas horas e meia, o pastor Fabio fez sua aposta: “No ano que vem, vamos comemorar o nosso primeiro ano de vida no Credicard Hall.” Em meio a palmas e risos, os fieis respondiam “gloria a Deus, Senhor!”.
FONTE: VejaSP



sábado, 27 de abril de 2013

'Igreja gay' inaugura primeiro templo na cidade de São Paulo

Localizado no Tatuapé, o templo paulistano tem 734 m² - o que lhe confere, segundo a própria administração da igreja, o título de "maior templo gay da América Latina"

São Paulo - Levando o amor de Deus a todos, sem preconceitos. Com esse slogan - que deixa implícita a aceitação plena das orientações sexuais de seus fiéis, para calafrios de adeptos de pastores e padres conservadores de outros credos -, a Igreja Cristã Contemporânea chega a São Paulo hoje. E com um discurso otimista. Depois de sete unidades em funcionamento (seis no Rio e uma em Minas Gerais), a instituição pretende abrir dez templos em São Paulo no período de três anos. "Temos espaço para crescer. Nossos cultos são sempre muito cheios, fica gente para fora", diz o pastor Marcos Gladstone, de 37 anos, fundador e presidente da igreja. Segundo ele, há 1,8 mil adeptos da Igreja Cristão Contemporânea em todo o Brasil.Localizado no Tatuapé, na zona leste, o templo paulistano tem 734 m² - o que lhe confere, segundo a própria administração da igreja, o título de "maior templo gay da América Latina". Há um mês, o grupo realiza os cultos na capital, mas em um local improvisado: um salão de eventos no centro.

História. Gladstone fundou e comanda a igreja ao lado de seu companheiro, o também pastor Fabio Inacio de Souza, de 33 anos - o casal tem dois filhos, frutos de uma adoção conjunta: Davison, de 10 anos, e Felipe, de 9. Ambos já eram religiosos antes de se conhecerem. Advogado, integrante da Comissão de Direito Homoafetivo da seção fluminense da Ordem dos Advogados do Brasil e teólogo, Gladstone era pastor da Igreja Evangélica Congregacional do Brasil, que frequentava desde os 14 anos. Souza, por sua vez, era pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. Os dois viviam relacionamentos heterossexuais - chegaram a ser noivos. 

"Acredito que as igrejas costumam seguir traduções errôneas e até mesmo tendenciosas dos textos bíblicos. Por isso, condenam o homossexualidade", diz Gladstone. "Então sempre me preocupei com o que sentia. Porque acreditava que era pecado, que era algo abominado por Deus." 

Em 2006, pouco tempo depois de eles se conhecerem e começarem a namorar, nascia a Igreja Cristã Contemporânea, com o discurso da tolerância. "Até hoje, a maioria dos fiéis são homossexuais", comenta Gladstone. "Mas, com o tempo, começamos a ter um público hétero também, principalmente parentes dos gays." 

Consequência. Para o teólogo Wagner Sanchez, professor da PUC, é uma tendência. "Há algum tempo, já existem igrejas evangélicas que focam determinados grupos, como jovens ou surfistas", analisa. "Uma igreja assim é consequência do espaço que os grupos homossexuais vêm ganhando na sociedade brasileira. 
Fonte: Exame