sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Somos gays, somos casados e somos pastores evangélicos

Todo tipo de amor combina com Jesus... Por isso, abrimos nossa própria igreja para abençoar as uniões homossexuais


Sou cristão e gay. Jesus e a Bíblia são meus modelos de comportamento. Acredito no casamento e meu sonho de construir uma família se tornou realidade. Me casei em 2009 com o amor da minha vida. Ele também é um homem de Deus e é pastor como eu. Juntos, fundamos a Igreja Cristã Contemporânea, uma igreja que aceita relacionamentos homossexuais.
Estou certo de que a Bíblia não condena os gays. Sou o primeiro pastor brasileiro a ter uma cerimônia religiosa de casamento com outro homem. Dos 30 pares de padrinhos que convidamos, 29 eram homossexuais. Todas as 11 crianças que entraram na nossa frente foram criadas por dois pais ou duas mães. Quando entramos, tocou uma música evangélica que diz: "Nenhuma condenação há para aquele que está em Jesus".
Nossa lua de mel foi na Costa do Sauípe. Quando cheguei naquele paraíso, passou um filme na minha cabeça. Como foi longo e difícil o caminho que precisei percorrer até me tornar pastor e casar com o Fábio...
Virei evangélico aos 14 anos
Ainda estava na puberdade quando me encontrei com Jesus. Aos 14 anos passei a ir à igreja seis dias por semana. Virava madrugadas estudando a Bíblia, adorava pregar sermões, e aos 17 anos tive certeza da minha vocação para ser pastor.
Aos 19 encontrei uma garota com quem namorei por quatro anos. Cheguei a ficar noivo. Meu futuro parecia traçado, não fosse por um segredo: me sentia atraído por outros rapazes. Eu sabia que isso inviabilizaria meu sonho de ser pastor e que eu jamais poderia casar com um homem. A igreja não admitia isso.
Resolvi me assumir numa boate gay e rompi meu noivado
Era 1999, eu tinha 23 anos e fui visitar um amigo nos Estados Unidos. Certo dia, ele me levou até uma boate gay. Fiquei assustado quando vi tantos homens se beijando! Comecei a fazer as minhas orações: "Deus, por que o Senhor me trouxe neste lugar?". Depois de muito orar, uma voz falou no meu coração: "Sua homossexualidade é pra sempre, você nasceu assim".
Cheguei ao Brasil e rompi meu noivado. A notícia sobre minha orientação sexual se espalhou rápido e não tive coragem de voltar ao templo. 
A maioria das igrejas evangélicas só aceita gays que queiram mudar a própria orientação. Mas eu não queria mudar a minha. Nem acredito nessa possibilidade!. Estava decidido a viver a minha homossexualidade. Foi nessa época que, pela primeira vez, me envolvi sexualmente com rapazes. Os anos seguintes foram difíceis. Eu morria de saudade da igreja e tinha vontade de voltar a pregar. Ser pastor estava no meu sangue. 
Comecei a pesquisar igrejas gays
Procurei informações sobre igrejas gays norte-americanas e criei um site propondo uma outra maneira de ler a Bíblia. Por exemplo: quase nenhuma igreja aceita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, alegando que a Bíblia fala que os efeminados não vão ao céu. mas o termo "efeminado" está mal traduzido - o que o original diz é "mole".
Por essas e outras que os relacionamentos entre homossexuais continuam não sendo admitidos nas igrejas. Criei uma alternativa a elas: em meados de 2002 abri um grupo evangélico para acolher as pessoas que procuram um espaço pra manifestar sua religiosidade cristã ao mesmo tempo em que vivem sua homossexualidade com tranquilidade.
Conheci o Fábio no grupo
Por volta de 2005 o Fábio começou a frequentar o grupo. Passamos a nos paquerar e a sonhar com uma igreja pra acolher homossexuais. Afinal, nosso jeito de expressar afeto tem tudo a ver com a nossa sexualidade.
Deu certo. Em setembro de 2006 assumimos o nosso relacionamento e fundamos a Igreja Cristã Contemporânea. Em dez anos, já juntamos mais de 3 mil pessoas em dez templos - são seis no Rio, dois em São Paulo e dois em Minas Gerais.
Na nossa congregação, defendemos o início da vida sexual durante o namoro, mesmo. Ao contrário das outras igrejas, pregamos que namorados podem ter vida sexual, desde que estejam comprometidos.
Somos legalmente casados e temos três lindos filhos
Do namoro até o noivado foi um ano. Coroamos nossa história de amor no altar, em 2009. Naquela época, os casamentos entre homossexuais não eram reconhecidos no Brasil. No entanto, fomos até um cartório e fizemos uma escritura declaratória de união homoafetiva. Oficialmente, ela não tem o mesmo valor que um contrato de casamento.
Em 2011, o Brasil passou a reconhecer a união estável homoafetiva, então fizemos uma. Não podíamos usar o mesmo sobrenome nem mudar o estado civil, mas já era algo. Em 2013, o país evolui mais e pudemos finalmente nos casar legalmente. O Fabio passou oficialmente para a família Canuto!
Nessa época, já tínhamos adotado dois filhos, o Davison, de 14 anos e o Felipe, de 12 anos. Hoje eles têm nosso sobrenome e uma certidão de nascimento com dois pais! Há seis meses adotamos a Hadassa Gladstone Canuto, que hoje tem 10 meses e dois pais. Ficamos quatro longos anos no processo de adoção. Mas sou feliz em dizer que não tivemos obstáculos específicos por sermos gays. Só enfrentamos as burocracias comuns para adotar uma criança. Por isso, montamos um grupo de apoio à adoção dentro da igreja, onde ajudamos casais a entender o processo inteiro e reforçamos a responsabilidade de acolher uma vida!
Amem incondicionalmente, como Jesus fez
Muitas mães heterossexuais frequentam a igreja por causa dos filhos. Isso é amor. Os nossos nos ensinaram muita coisa. Sou um pastor melhor por causa deles! A igreja Cristã precisa ser mais humana, compreender a diversidade. Deus não queria uma torre onde todas as pessoas falassem a mesma língua, Ele sabia que haveria a pluralidade e ela existe, está em todo lugar. Minha mensagem segue a mesma: amar, como Jesus fez. Ele não se preocupava em caracterizar uma pessoa pelo pecado, cor, classe ou religião. A gente só precisa amar!
Marcos Gladstone, 40 anos, advogado e pastor evangélico, Rio de Janeiro, RJ
 "Pensei que fosse o demônio"
"Aos 18 anos eu já era pastor da Igreja Universal do Reino de Deus e tinha uma namorada. A homossexualidade me perturbava, eu achava que possuía o demônio no corpo. Certo dia, aos 24 anos, fui procurado por um obreiro que confessou que se sentia atraído por um homem. Como logo eu iria aconselhá-lo? Decidi terminar meu namoro e sair da igreja sem contar nada. Sentindo-me incompleto, comecei a frequentar baladas e a transar com rapazes. As coisas mudaram quando fui ao grupo do Marcos. Ele foi o primeiro homem que eu amei. Hoje vivo em paz com Deus e com minhas escolhas, não preciso de mais nada. Tudo que pedi a Deus me foi concedido. Se Jesus estivesse aqui, em terra, ele estaria no meio da minha família. Ele é amor e sempre andou entre os excluídos. Basta amar!"
Fábio Inácio, 36 anos, pastor evangélico, marido do Marcos

Luta por direitos dos gays será longa no Brasil

Campos de batalha dos gays brasileiros passam por questões jurídicas, morais, religiosas e científicas. E a luta tem tudo para ser longa


Com apenas 2,8 quilômetros de extensão, a Avenida Paulista é uma das provas mais veementes da consolidação dos direitos dos gays brasileiros. Ali, pares masculinos caminham tranquilamente de mãos dadas, misturados aos 1,2 milhão de pedestres que passam por lá todos os dias – e, gostem ou não, estão cada vez mais acostumados a essa nova paisagem. Ali, não raramente, casais de mulheres se beijam à luz do dia. E ali acontece a maior Parada do Orgulho GLBT do mundo, que reuniu 4 milhões de pessoas neste 26 de junho. A avenida, no entanto, também tem servido de cenário para manifestações homofóbicas. De novembro para cá, foram registrados os seis casos mais graves de violência contra homossexuais ocorridos no Brasil. Esses contrastes transformaram a mais paulista das avenidas num microcosmo do que se passa atualmente no restante do país.
Os avanços jurídicos, culturais e até religiosos ocorridos nas últimas décadas não foram suficientes para garantir aos homossexuais uma cidadania plena. Em maio de 1993, VEJA publicou uma reportagem de capa com o título “O que é ser gay no Brasil”. Os dados de uma pesquisa realizada na época pelo Ibope e divulgados naquela edição informavam que 56% dos entrevistados se afastariam de um colega caso descobrissem que ele era homossexual, 45% dos pacientes mudariam de médico e 47% dos eleitores mudariam seu voto. Do total, 44% debitavam aos gays o aparecimento da aids.
Tony Reis, presidente Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), e David Harrad, seu companheiro há mais de duas décadas, foram dois dos entrevistados por VEJA em maio de 1993. Fazia exatamente três anos que a Organização Mundial de Saúde excluíra a homossexualidade da sua lista de doenças mentais.
“Naquela época havia eu, o David e mais meia dúzia de homossexuais assumidos no Brasil”, lembra Tony. No censo de 2010 – o primeiro em que um levantamento do tipo foi realizado – 60.000 brasileiros declararam viver com cônjuge do mesmo sexo.
O limite da tolerância – Passados 20 anos da edição de VEJA, os homossexuais estão em todas as empresas e profissões, representantes do movimento gay são cada vez mais numerosos na Câmara dos Deputados e está mais do que provado que a aids não surgiu por culpa do homossexualismo. Contudo, os avanços não impedem que ocorram episódios inquietantes. Há uma semana, em São João da Boa Vista, a 225 quilômetros de São Paulo, um homem de 42 anos e seu filho, de 18, foram atacados depois de confundidos com um casal gay. O pai teve metade da orelha arrancada a mordidas. Um relatório divulgado pelo Grupo Gay da Bahia, primeira organização homossexual do Brasil, informou que, em 2010, foram assassinatos 260 gays, travestis e lésbicas no Brasil – 62 a mais que em 2009.
Casos como esse manifestam de modo extremo pensamentos arraigados em grande parte da sociedade brasileira. São raras declarações semelhantes às feitas recentemente pelo deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) e pela deputada estadual Miriam Rios (PDT-RJ). Mas não são poucos os que concordam com elas.
Depois de promover uma enquete e descobrir que 75% dos entrevistados não queriam um beijo gay na televisão, o novelista Aguinaldo Silva, assumidamente homossexual, foi enfático: “Beijo gay, só lá em casa”. É provável que nas ruas essa decisão seja criticada por brasileiros que, em casa, se sentirão à vontade para aplaudi-la.
Se o Brasil fosse tão colorido quanto aparenta, as emissoras de televisão não hesitariam tanto em mostrar na tela um beijo entre homossexuais. O primeiro beijo lésbico nos EUA, por exemplo, consumou-se em 1991, na série “L.A Law”. Exatamente 20 anos depois, os autores da novela Amor e Revolução, do SBT, criaram coragem para repetir a cena por aqui. Nos EUA, dois homens se beijaram em 2000, na série “Dawson’s Creek”. Não há previsão para que a cena seja reprisada no Brasil.
Atualmente, os campos de batalha dos gays brasileiros passam por questões jurídicas, morais, religiosas e científicas. E a luta tem tudo para ser longa.
Os argumentos jurídicos – Até esta quinta-feira, mais de 350 casais homossexuais haviam conseguido o reconhecimento de união estável – aprovado por unanimidade pelo Supremo Tribunal Federal em 5 de maio deste ano. Quatro foram transformadas em casamento civil.
“Jamais imaginei que viveria para ver isso”, diz Tony. Para o presidente da ABGLT, os responsáveis por essa conquista foram os próprios homossexuais. “Aprendemos a nos mobilizar e a pressionar politicamente”. Hoje, os 300 grupos que lutam pelos direitos dos gays espalhados pelo Brasil, organizam mais de 250 passeatas anualmente.
Dos quatro casamentos entre pessoas do mesmo sexo, dois por pouco não se concretizaram. Titular da 1ª Vara de Registros Públicos de Goiânia, juiz de Direito desde 30 de setembro de 1991, casado e pai de dois filhos, Jeronymo Pedro Villas Boas foi responsável pela decisão polêmica. Amparado na Constituição Federal Villas Boas anulou a certidão de casamento expedida a dois casais homossexuais por cartórios de Goiás.
“A poética decisão do Supremo desnaturou o conceito constitucional de Família, que se forma apenas entre homem e mulher”, sentenciou o magistrado. “O STF não possui aptidão para modificar a Constituição”.
Também pastor da Assembleia de Deus, Villas Boas foi alvo de duas acusações: afrontar o Supremo e proceder com excesso de moralismo. Villas Boas nega que se tenha baseado em questões religiosas. “Sobre ter afrontado o Supremo, considero que antes de tudo houve uma afronta do Supremo à Constituição”, diz. “Quanto ao moralismo, penso que na ausência de razões para o debate, o rótulo de moralista é usado como recorrência para tentar descredenciar uma opinião contrária”.

Para a advogada Maria Berenice Dias, estudiosa da jurisprudência sobre o assunto, a decisão do STF foi o desfecho de uma séria de mudanças iniciadas há pelo menos 10 anos. “Faz tempo que ações isoladas de juristas têm permitido que homossexuais tenham direito à pensão por morte do parceiro, por exemplo, que sejam incluídos entre os dependentes de planos de saúde, ou que possam se associar ao clube de seus companheiros”, diz Maria Berenice..
Em 4 de julho deste ano, uma resolução do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça estendeu o direito à visita íntima “às pessoas presas casadas, em união estável ou em relação homoafetiva”. E a orientação sexual deixou de figurar entre os critérios de seleção de doadores de sangue em 14 de junho.
A Comissão de Diversidade Sexual da Ordem dos Advogados do Brasil, presidida por Maria Berenice, prepara um documento destinado a unificar os direitos de gays, lésbicas, transexuais e travestis. Entre outros objetivos, a Comissão pretende transformar em lei o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo e criminalizar da homofobia.
“A pretensão de criminalizar a crítica ao homossexualismo não passa de uma tentativa de interferir na liberdade de expressão num veio onde os conteúdos e opiniões possuem fortes pontos axiológicos”, acredita Villas Boas. “Caso a homofobia seja criminalizada será dever desse mesmo parlamento criminalizar a heterofobia, o que me aparente algo bastante arriscado, que pode levar a sociedade a se segregar, gerando um sistema de apartheid”.
A moral e a religião – “O homossexualismo mexe com a noção tradicional de família”, acredita Denise Pará Diniz, terapeuta comportamental e coordenadora do setor de gerenciamento de estresse e qualidade de Vida da Unifesp. “A família constituída por um homem e uma mulher tem como objetivo a procriação. Nesse sentido, ela é um dos pilares da sociedade, algo que permite a ela se perpetuar. Por isso o homossexualismo gera tanto desconforto em algumas pessoas”.
Embora convencida de que a união estável entre pessoas do mesmo sexo não pode ser equiparada à família, “que se fundamenta no consentimento matrimonial, na complementaridade e na reciprocidade entre um homem e uma mulher, abertos à procriação e educação dos filhos”, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se mostrado mais tolerante no trato do tema. Na mesma nota em que acusa o STF de ter interferido na esfera de atribuições do Congresso Nacional, a quem cabe propor e votar leis, a CNBB diz que “as pessoas que sentem atração sexual exclusiva ou predominante pelo mesmo sexo são merecedoras de respeito e consideração”. E conclui: “Repudiamos todo tipo de discriminação e violência que fere sua dignidade de pessoa humana”.
Em julho de 2003, o Vaticano lançou uma campanha mundial contra a legalização da união civil homossexual, pedindo aos políticos católicos de todo o mundo que se pronunciassem contra o casamento gay. Cinco anos depois, o Vaticano se opôs à proposta apresentada a ONU pela França, de exigir a descriminalização universal do homossexualismo. Em abril de 2010, o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, afirmou que os casos de pedofilia entre padres católicos tinham mais relação com a homossexualidade do que com o celibato.
“Muitos psicólogos e psiquiatras demonstraram que não há ligação entre celibato e pedofilia, mas muitos outros demonstraram, ouvi dizer recentemente, que há uma relação entre homossexualidade e pedofilia”, argumentou Bertone. “Essa é uma doença que atinge todos os tipos de pessoas, e padres em uma escala menor em termos percentuais”.
A homossexualidade continua a ser vista com desconforto pelas religiões cristãs, que associam a relação sexual exclusivamente à procriação. Nunca ao prazer ou ao amor entre duas pessoas. Em alguns países de religião predominantemente muçulmana, como a Arábia Saudita, o Irã e o Iêmen, o homossexualismo é punido com pena de morte.
Apesar de a homossexualidade ser tratada pela grande maioria dos evangélicos como doença, ou até como uma maldição demoníaca, duas igrejas de São Paulo acolhem gays entre seus fiéis e realizam cultos celebrados por pastores homossexuais. São a Comunidade Metropolitana, no bairro da Bela Vista, e a Comunidade Cidade de Refúgio, em Santa Cecília.
Genética ou criação? – A ciência também é palco de uma polêmica sobre os homossexuais. Há anos, o meio acadêmico se divide entre os que acreditam que o homossexualismo tem razões genéticas e os que entendem que os homossexuais são fruto do meio em que vivem. Até agora, nenhuma das teorias foi cientificamente comprovada. “O que se sabe é que não é uma opção sexual, mas uma orientação”, afirma o médico e psicoterapeuta Geraldo Possendoro, mestre em neurociência do comportamento pela USP. “Um homossexual não tem escolha, da mesma forma que um heterossexual não tem a opção de se sentir atraído por um homem ou uma mulher. Ele gosta e ponto”.
Assumir a homossexualidade, segundo o médico, diminui consideravelmente o grau de ansiedade e estresse. O apoio da família também afasta o risco de depressão e suicídio. Possendoro atribui a aceitação crescente do homossexualismo a uma evolução da sociedade. O psicoterapeuta, entretanto, evita manifestar-se sobre a adoção de filhos por casais gays. “Não sou contra nem a favor”, diz. “Não tenho como me manifestar porque não existem dados científicos para saber quais serão as consequências na vida de uma criança”.
“Esses novos núcleos familiares podem culminar em novas pessoas, novas cabeças e novos corações”, diz Denise Pará Diniz. “Podem fazer com que a humanidade consiga conviver melhor com as diferenças”.
Na contramão de Denise, Villas Boas sustenta que quando duas pessoas do mesmo sexo optam por um relacionamento homossexual fazem uma opção por não terem filhos, diante da impossibilidade natural disto ocorrer. “Esta decisão fundamental retira não só a aptidão, mas também a legitimidade de duas pessoas do mesmo sexo para ambicionar a adoção de uma criança como se constituíssem núcleo familiar”, afirma.
É apenas mais um exemplo de que, apesar de todas as mudanças, a história está em seu começo. E não tem prazo para terminar.

domingo, 18 de dezembro de 2016

Silas Malafaia: os mandamentos de um CEO da fé

A publicação a seguir foi realizada integralmente pela revista Exame. Resolvi compartilhá-la nesse blog pois trata de uma das figuras mais polêmicas do país quando o assunto é homossexualidade, o pastor Silas Malafaia. Formado em psicologia, Malafaia afirma que a Homossexualidade (ou homossexualismo) é um comportamento aprendido, passível de reversão, e não uma característica natural presente em muitas espécies de seres vivos, como afirma a própria psicologia e a ciência. Podemos ver abaixo a forma de prosselitismo da igreja do referido pastor, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo.

O pastor carioca é o último dos grandes pregadores evangélicos a entrar em São Paulo, o maior mercado do país


Reportagem publicada originalmente em EXAME Hoje, app disponível na App Store e no Google Play.

O que era para ser um banquete virou apenas a entrada. Desde sábado, o pastor Silas Malafaia promove celebrações para inaugurar a primeira sede de sua igreja, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, em São Paulo. Mas o espaço estreado na Mooca, zona leste paulistana, ainda não é a igreja definitiva. Depois de um ano pesquisando o mercado e sondando as oportunidades, ele fechou negócio em um imóvel a quatro quilômetros dali, onde começou uma reforma para levantar uma igreja para 6.000 pessoas.
No meio do caminho, mudou de rumo. Apareceu o imóvel na Mooca, ele resolveu reformá-lo rapidamente para transformar em igreja provisória, para 3.600 pessoas, e redimensionou o projeto da sede original para 10.000 pessoas. Aquela, a primeira, abre dentro de três anos. Esta, a provisória, abre neste fim de semana. “Desde a assinatura do aluguel, levamos 45 dias para aprontar o lugar, rebaixar o piso, instalar o som, as salas de estudo, as cadeiras, numa conta simples só com essas coisas gastamos 2,5 milhões de reais”, revelou Malafaia a EXAME Hoje.
O pastor carioca é o último dos grandes pregadores evangélicos a entrar no maior mercado do país. Ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, da Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago e da Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R. Soares, Malafaia vem fechar na cidade o grupo de principais líderes religiosos da fé que mais cresceu no país nos últimos anos.
De acordo com censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os evangélicos somavam mais de quarenta e dois milhões de fiéis no Brasil, ainda bem atrás dos católicos (mais de 123 milhões), mas à frente de todas as outras religiões e descrentes somados. O censo indica duas curvas nítidas: evangélicos, em crescimento vertiginoso, passaram em 2010 a representar 22,2% da população brasileira. Dez anos antes, esse número era de 15,4; vinte anos antes, de 9%. Do outro lado, os católicos, que em 2010 representavam 64,6% da população brasileira, ainda são uma sólida maioria, mas em queda. Para se ter uma ideia da curva que os números apontam, em 1970 a porcentagem de católicos na população brasileira era de 91,8%.
O crescimento dos evangélicos se deve principalmente ao neopentecostalismo, ou a terceira onda pentecostal, surgida na década de 1960 no Rio de Janeiro com o nascimento da Igreja Universal do Reino de Deus. O tele-evangelismo, o combate às religiões de matriz africana, a teologia da prosperidade (que, em breves linhas, celebra a riqueza como vitória), entre outros, compuseram uma política agressiva de crescimento que tirou fiéis da Igreja Católica e elevou em muito o nível de tensão entre as religiões cristãs no país.
No entanto, a gênese do pentecostalismo está na Assembleia de Deus, a igreja na qual Malafaia nasceu e foi formado, no caso dele a filial da Penha, na zona norte carioca. “Daniel Berg e Gunnar Vingren sentiram um chamado do Senhor para pregar a mensagem pentecostal no Brasil”, relata David Allen Bledsoe em Movimento Neopentecostal Brasileiro (Editora Hagnos, 2012). Os dois pregadores atuavam nos Estados Unidos no começo do século passado e seguiram o chamado, indo parar em Belém do Pará em dezembro de 1910. Foram abrigados por um pastor batista e aprenderam português para poder pregar. “Em 1911, ocorreu uma divisão entre eles e a Igreja Batista, o que resultou no começo da Missão de Fé Apostólica, com dezenove membros. Em 1914, o nome mudou para Assembleia de Deus”, registra Bledsoe. Era o início do pentecostalismo no Brasil
Aumentar o dízimo para depois dividir
Parte do projeto de crescimento dos evangélicos esteve ligado também a uma certa flexibilização de conceitos. No catolicismo, qualquer mudança é lenta. Mesmo vivendo um momento progressista sob o comando do Papa Francisco, o sexo, segundo a igreja, ainda se destina somente à procriação. Do outro lado, Edir Macedo proclama em sua biografia oficial, O Bispo (Douglas Tavolaro com Christina Lemos, Larousse, 2007) que “sexo é para ter prazer” e que “a cama é a base de uma aliança no altar”.
E o projeto de expansão é também um projeto financeiro, uma vez que cada um deve, segundo a Bíblia, dar a décima parte do que ganha à igreja, e fazer outras ofertas de acordo com seus propósitos. Logo, numa conta simples, mais fiéis trazem mais recursos que trazem mais igrejas que trazem mais fiéis. A expansão da Vitória em Cristo não é diferente.
Hoje a congregação tem 120 igrejas em seis estados brasileiros, mas a chegada a São Paulo marca um novo planejamento. “Meu projeto é abrir mil novas igrejas nos próximos dez anos pelo Brasil”, me diz Malafaia. “Claro que terei um olhar especial para o Estado de São Paulo, mas quero abrir igreja em tudo quanto é canto, do Amapá ao Rio Grande do Sul, não importa se é lugar de bacana ou não”, enfatiza, em seu tom de voz característico, alguns tons acima.
Nem todo mundo no meio evangélico enxerga nele uma liderança absoluta. “A vinda de Malafaia para São Paulo é muito mais política e empresarial do que eclesiástica”, pontua Marcelo Rebello, presidente da Associação Brasileira de Empresas e Profissionais Evangélicos (Abrepe). “Em sua campanha para se tornar um líder reconhecido, é notória a importância de estar na cidade com o maior PIB do país, onde estão os principais concorrentes. É uma grande vitrine e acho até que demorou para ele tomar esta decisão”, conclui Rebello. Político, empresarial e eclesiástico, Silas Malafaia é, sob todos esses aspectos, um bem-sucedido CEO da fé cuja forma de comandar seu, digamos, negócio traz ensinamentos. Selecionamos oito lições empresariais que podem ser apreendidas do líder da Vitória em Cristo:
1.Modernize-se sem abandonar as tradições
“Nossa igreja é marcada pela palavra, o pastor prega uma mensagem bíblica, ensina um assunto. Essas igrejas neopentecostais, as três mais famosas, são igrejas de cinco cultos por dia”, pontua Malafaia. Do jeito que ele fala, entender como funciona a Assembleia de Deus parece simples, mas não é. “São três vertentes. A mais ortodoxa, fechada, corresponde a mais da metade; uma ala moderada responde por uns 30%, e a ala contemporânea, da qual faço parte, representa de dez a quinze por cento”, lista Malafaia. Todos são iguais nos dogmas de fé, creem nas mesmas coisas, mas os costumes estão mais ou menos em sintonia com o mundo do lado de fora. Silas Malafaia é ligado à Assembleia de Deus desde criança, “A nossa era conhecida como ‘a igreja do pecado’ pelas outras congregações da Assembleia de Deus”, lembra o pastor. “Tive a graça de estar numa igreja mais aberta e ter nos meus pais pessoas com conhecimento teológico”, resume. Como queria expandir sua igreja e a quantidade de regras dentro da Assembleia de Deus era típica, como ele mesmo define, de um “mundo de maluco”, saiu da organização central numa boa e montou uma ramificação, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo. “Se quiser abrir uma igreja, não quero ter de ver se o pastor do bairro vai deixar, eu abro e acabou, não devo satisfação a ninguém”, diz. Um liberal na igreja e um conservador no ambiente mundano, Jerry Hall morreria de inveja se o conhecesse.
2. Seja sempre mais ambicioso
Malafaia era conferencista havia 35 anos, tinha viajado o mundo pregando, tinha uma editora, lançava seus livros, aparecia na TV, era conhecido em seu meio e não pensava em assumir uma igreja. Mas, uma vez convocado para liderar, não se fez de desentendido: abraçou a causa. “Cuidar de pessoas é a coisa mais difícil que tem. A igreja do meu sogro era de bairro, o que chamam de igreja local”, lembra o pastor. “Pensei: não vou assumir uma igreja para ser pastor local, para isso escolham qualquer outro aí. Vou pegar essa igreja e dar a ela uma abrangência nacional”, proclama.
3. Saiba esperar as oportunidades
A expansão da Vitória em Cristo começou sem planejamento fixo, mas para onde as oportunidades apareceram. “Um cara abriu um bingo num lugar fantástico em Natal, e com trinta dias aberto veio a lei e ele foi obrigado a fechar. Fui ver um ano depois, ele não queria alugar para ninguém, quando falei que era o Silas Malafaia ele topou. E assim entrei em Natal”, lembra, com uma ponta de orgulho. “Em Santa Catarina, uma senhora evangélica dona de universidades em Joinville soube que estava abrindo igrejas, me ligou e falou que tinha um terreno, eu só precisava pagar o aluguel”, relembra.
4. Conheça e cuide de seus comandados
Silas Malafaia tem cerca de 1.500 funcionários sob seu comando nas estruturas da Vitória em Cristo, entre pastores, engenheiros, funcionários administrativos e outros, a maioria concentrada na matriz carioca. “A estrutura dos templos e os detalhes fazem o Malafaia atingir um público com maior poder aquisitivo que o da Universal e o da Mundial”, analisa Marcelo Rebello. “Ele, por exemplo, costuma fazer propaganda de como paga bem a seus pastores, dos benefícios trabalhistas que dá a eles, etc.”, completa. De fato, em 2013 Malafaia revelou que um pastor de sua igreja poderia ganhar até 22.000 reais. Mas o plano de carreira não é fácil. “Para chegar a ser pastor comigo ele vai ser assistente até chegar ao primeiro nível, chamado de ‘diáconos’, um corpo de assistentes sem salário”, relata. “Se tiver mesmo a vocação, vai dirigir igrejas pequenas, onde a gente possa testar o camarada e ver se ele vai virar pastor ou não. Não tem uma regrinha, mas para virar pastor e ser consagrado o cara vai levar, no baratinho, de quatro a cinco anos pelo menos”, decreta.
5. Diferencie-se pela qualidade
“O meu sistema de abrir igrejas não é igual ao do Valdemiro, da Universal ou do R.R.”, diz Malafaia antes que o entrevistador toque no nome de seus concorrentes. “Eles têm custo muito baixo, abrem um galpão com sala para o pastor, outra para a tesouraria e outra para a secretaria e acabou o papo. Eu não, para abrir uma igreja, só de área educacional preciso ter no mínimo vinte salas. Toda igreja que abro tem que ter esse padrão, não sou caça-níquel”, diz, enfático. “A Universal, por exemplo, hoje tem uma estrutura diferenciada, mas o que os caras abriram de igreja com gente que não sabia nem o beabá da Bíblia…”, alfineta. Uma igreja padrão Malafaia custa em torno de 10 milhões de reais (isso, claro, varia de projeto a projeto) e tem ar-condicionado, sistema de som de última geração, TVs de led. “A igreja tem o papel social de melhorar a vida das pessoas. Quando o cara vem à Igreja e a casa dele é esculhambada, ele passa a querer melhorar a casa. Eu prego sobre isso, que Deus é esse que não dá dignidade para as pessoas terem uma vida melhor?”, teoriza.
6. Não fale em dinheiro
A revista Forbes publicou, em 2013, que Malafaia era o terceiro pastor evangélico mais rico do país (atrás, claro, de Edir Macedo e Valdemiro Santiago), com patrimônio estimado em 150 milhões de dólares. Irritado, ele mostrou na TV sua declaração de Imposto de Renda, na qual constava um patrimônio de cerca de R$ 4,5 milhões, e está processando a revista. Em sua concepção, sempre que se fala em dinheiro e em pastores evangélicos, há a intenção de sugerir algo ilícito. “A ideia que se passa sempre é a de que a igreja evangélica é formada de imbecis e analfabetos comandados por malandros. Por que ninguém fala dos bilhões que a Igreja Católica manda todos os anos para o Vaticano?”, pergunta, aproveitando para classificar a questão sobre faturamento como uma “pergunta babaca”. Malafaia ainda garante que fez um propósito de abrir mão de salário em sua igreja por sete anos – o prazo vence em março do ano que vem.
7. Deixe claro que é o cargo que precisa de você, e não o contrário
“Meu aniversário é em setembro e eu ganho ofertas em dinheiro. Apenas por dois anos fiquei com elas para mim, e paguei o imposto devido, nos outros eu devolvi”, conta Malafaia, nesse momento à vontade para falar de dinheiro. Ele teve de diminuir o ritmo de palestras depois de assumir a igreja – este ano foram apenas seis ou sete lugares, pelo que lembra. Tudo em nome de um propósito. “Um conferencista conhecido como eu fica rico. Se estivesse fazendo só conferência, com venda de material, estaria faturando entre 300.000 e 400.ooo reais por mês fácil. Os evangélicos cresceram e com eles cresceu também uma fome de conhecimento, e não há cinquenta caras do meu nível para atender essa demanda”, regozija-se.
8. Cause impacto
O Silas Malafaia formado em psicologia e em teologia, casado há 36 anos (“com a mesma mulher”, faz questão de completar), que tem três filhos e com o quinto neto a caminho raramente aparece nas manchetes. O que de fato o tornou uma pessoa pública nos últimos anos foi sua capacidade de polemizar sobre assuntos como homossexualidade e aborto. “Ele é muito mais conhecido por sua gíria antiquada e linguajar vulgar que pela capacidade de interpretar com equilíbrio e imparcialidade os textos bíblicos”, condena Marcelo Rebello. “A Bíblia é bem clara no que diz respeito à homossexualidade e ao aborto, no entanto, a palavra de Deus manda sermos tolerantes com as pessoas que não têm o mesmo ponto de vista que o nosso. A mensagem deve ser pregada com amor, com equilíbrio e com sabedoria, não pode ser um show pirotécnico”, conclui o presidente da Abrepe.
Amado e odiado, bem ou mal, estamos falando bastante dele nos últimos anos. E isso, aliado, claro, a toda a visão empresarial destilada aqui, está levando Silas Malafaia mais longe. Hoje a Mooca, amanhã, quem sabe, o mundo.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Reunião da Mocidade no Brás


No último mês de novembro estive na Reunião da Mocidade na igreja central da Congregação Cristã no Brasil, no bairro do Brás, em São Paulo. Eu já não frequentava uma reunião destas havia mais de 4 anos, e confesso que fiquei um tanto impressionado com o progresso que a mocidade homossexual fez dentro da CCB desde então.

Logo ao chegar notei vários irmãozinhos gays conversando na porta da igreja, meio que "paquerando" uns aos outros. Ao entrar na igreja também avistei alguns dos muitos moços gays que conheço. Aparentemente estamos alcançando cada vez mais espaço dentro da CCB. Não que nós não existíssemos antes, pelo contrário, sempre fomos muito numerosos. Pela minha experiência eu diria que há maior percentual homossexual dentro da CCB do que na média da população fora da igreja.

Durante o culto em nenhum momento o ancião abordou a temática gay, talvez porque não quisesse mexer em algum "vespeiro" e ter de ouvir protestos de alguns. Soube que anos atrás um ancião ofendeu a comunidade LGBT durante uma RM e um moço se levantou em defesa dessa minoria, causando um grande constrangimento na igreja.

Fico bastante contente em ver que cada vez os gays estão alcançando respeito dentro da Congregação Cristã, mesmo porque não é nenhum segredo para o ministério que há centenas, melhor, milhares de gays músicos, auxiliares, instrutores musicais, cooperadores de jovens, cooperadores e também anciães homoafetivos. Obviamente a grande maioria mantém sua condição em segredo.

Ao final do culto conversei com um irmãozinho de 20 anos que havia conhecido um moço de outro local e naquela reunião e estava "apaixonadinho". É, as coisas realmente estão mudando.