Em um post anterior eu havia falado sobre “a difícil missão de ocultar” a homossexualidade de parentes, amigos e da igreja. Desta vez, resolvi falar sobre dificuldade que muitos jovens gays enfrentam para serem quem eles são de verdade.
Para a maioria da sociedade, ser homossexual é algo digno de vergonha, quando não de punição verbal ou até mesmo física, afinal ser gay seria uma “escolha”, um ato de rebeldia contra os bons princípios da sociedade como um todo. No campo religioso, a homossexualidade é vista como uma “perversão diabólica”, uma “abominação” contra Deus e sua vontade. Frequentemente religiosos (e curiosamente não religiosos também) citam passagens bíblicas para afirmarem que ser gay é algo horrendo: “E deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher[e não a outro homem], e serão ambos uma só carne”, “E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro “. E é neste ambiente de hostilidade que gays e lésbicas são criados, sentindo-se compelidos a reprimirem seus desejos e assumirem uma postura heterossexual para estarem de acordo com “as regras sociais” e com a “palavra de Deus”.
Recentemente tenho acompanhado o processo frustrado de “saída do armário” de alguns irmãos da CCB. Um deles, um rapaz tímido, de boa conduta, músico oficializado, após tentar alguns relacionamentos com irmãzinhas e não conseguir desenvolver a “química do amor”( por razões óbvias), tentou encontrar em sua família um entendimento sobre sua condição sexual. Seus pais, psicologicamente despreparados para lidarem com a situação, possuindo apenas o entendimento teístico sobre o tema, lançaram todo o terror da religião sobre ele. Não bastasse isto, seu pai, crente batizado, disse que “se seu filho virasse isto” (ou seja, assumisse sua homossexualidade) ele o mataria. Sem apoio algum da família, e cheio de conflitos em sua mente, este jovem buscou a psicologia. Ao chegar ao consultório, ele foi orientado que a única forma de ele ser feliz seria sendo o que ele realmente é, e não o que a família e a sociedade queria que ele fosse. Ele deveria, portanto, enfrentar o preconceito e a ignorância de sua família, tentando esclarecer-lhes sua condição. Este rapaz, nascido e criado dentro da Congregação Cristã, argumentou com a psicóloga que ele era crente e que não era da “vontade de Deus” esta sua condição. Ele saiu do consultório aos prantos. Da última vez que conversamos, ele me disse que “ amorteceria seus desejos carnais” em nome de suas crenças. Infelizmente, a verdade é que ele adotou esta atitude por não encontrar apoio em sua própria família e estar em conflito consigo mesmo, conflito este causado sobretudo pela religião.
Um outro rapaz da CCB, músico oficializado, viveu por alguns anos uma vida dupla perante a igreja e sua familia. Após ter sido descoberto sem que tivesse sido sua intenção (estava em um relacionamento com um outro rapaz da CCB), ele assumiu sua homossexualidade para sua familia, mas após algum tempo chegou à conclusão que “jamais seria feliz vivendo com um homem”, já que a religião tinha um papel muito importante em sua vida e ele jamais seria aceito na igreja vivendo desta forma. Assim sendo, após algum tempo deste ocorrido ele “voltou para o armário”, buscou uma moça da CCB, a qual certamente desconhecia sua trajetória, e se casou.
Um terceiro jovem da CCB há algum tempo me disse que estava interessado em um colega de trabalho mas que não sabia como fazer para saber se ele também estava afim dele. Encontrando-o novamente estes dias eu perguntei como ele estava. Surpreendentemente, ele me disse que estava namorando uma “irmã da CCB”. Eu lhe questionei o motivo, e ele me disse que “por influencia do ambiente, e sobretudo da religião” ele estava namorando esta moça, e que “ele não conseguia lagar de Deus”...
Tendo como base estas três histórias, dá para perceber que a maioria dos gays da CCB, e não somente da CCB mas também de outras igrejas evangélicas, encontram grande dificuldade em assumirem sua condição homossexual, já que os valores da religião criam um conflito muito forte em suas mentes, além de encontrarem resistência em seus parentes também evangélicos, e sobretudo o medo de perder suas identidades religiosas. Para estes, não há como assumir um relacionamento gay e continuar sendo membros da comunidade religiosa à qual eles pertencem, o que seria sinônimo de abandonar a Deus. Assim, muitos preferem buscar um casamento com alguém do sexo oposto. Em muitos destes casos, infelizmente, existe um namoro / casamento de fachada e um (ou muitos) casos amorosos paralelos com pessoas do mesmo sexo.
Será mesmo que vale a pena viver escondido atrás da religião e de relacionamentos infelizes para agradar aos outros? Será mesmo que é esta a vontade de Deus?