Tradicionalmente, no final de cada ano, as pessoas têm por costume colocar metas para suas vidas no ano que seguirá: emagrecer, buscar um novo trabalho, encontrar um novo amor, começar aquele curso de idiomas, entrar na faculdade etc. De fato, mudanças e novos projetos não são fáceis de serem implementados, mas, mais cedo ou mais tarde, será necessário sair da zona de conforto para dar início a algo novo.
Muitos crentes me escrevem perguntando quando seria a melhor hora para alguém sair do armário. Eu me pergunto se há, de fato, uma “hora certa” para sermos quem nós realmente somos. Uma coisa é fato: quanto mais tempo mentimos para nós e para as pessoas que nos cercam, mais difícil, complicado e constrangedor será para anunciar nossa verdadeira preferência sexual. No entanto, nunca é tarde demais. Já faz três anos que eu me assumi para meus familiares e amigos, aos vinte e cinco anos de idade. Muitas pessoas ficaram chocadas não pelo fato de eu ser gay, mas por eu ter de certa forma escondido por tantos anos, sob uma aparência heterossexual, que minha vontade e desejo estavam para as pessoas do mesmo sexo que eu. Na Congregação tive algumas namoradas, pois eu queria estar dentro das normas sociais na qual eu fui criado, mesmo sabendo que eu não sentia atração sexual por mulheres. Quando muitos dos meus parentes ficaram sabendo, alguns não acreditaram de cara, outros tiveram crise de choro (risos), mas no final das contas tive muita sorte, pois tive a aceitação, amparo e apoio da minha família. Alguns ditos amigos (sobretudo os crentes) tiveram atitudes que me deixaram muito triste na época, mas a imensa maioria não mudou a relação que sempre tivemos. Se você estiver psicologicamente preparado para contar a sua família e amigos sua inclinação sexual não deixe que isto tome anos da sua vida, pois um dia eles terão de saber de qualquer forma, isto é, se você deseja ter uma vida sem máscaras, ter um relacionamento com alguém que você ame e por quem sinta atração, e quem possivelmente frequentará seu círculo social. No primeiro momento pode haver um desconforto com notícia, pois é algo pelo que eles talvez não esperassem ouvir de você, sobretudo os pais, mas com o tempo a poeira acaba baixando e você terá o “feeling” para levar a situação adiante. Algumas famílias são muito abertas, aceitando o namorado / a namorada no convívio sócio familiar, outras até aceitam, mas preferem que não toquem no assunto (tratam o namorado / a namorada) como se fossem apenas um amigo qualquer. Alguns pais podem ter reações mais duras, ficando sem falar com o filho por algum tempo, rogam pragas (infelizmente há alguns crentes que fazem isto com seus filhos, mas entenda que eles agem assim porque eles acham que você está possuído por “demônios” e não querem que você vá para o “inferno”, de certa forma é também uma forma de mostrar preocupação e amor, por mais contraditório que pareça. Outros simplesmente não têm uma instrução sobre o que é a homossexualidade, possuindo apenas alguns “pré-conceitos”) etc.
Pergunte a você mesmo: Até quando eu vou conseguir mentir? Quanto tempo mais da minha vida vou desperdiçar ocultando algo que é tão próprio do meu ser quanto a cor da minha pele? Quanto tempo mais eu conseguirei esconder dos outros minha preferência sexual? Vale a pena viver uma mentira, em relacionamentos héteros, para cumprir com as normas sociais?
Faça um propósito com você mesmo e sua consciência para o ano que está por vir, e viva sua vida como ela deve ser vivida.