quinta-feira, 22 de março de 2012

A difícil missão de sermos nós mesmos



Em um post anterior eu havia falado sobre “a difícil missão de ocultar” a homossexualidade de parentes, amigos e da igreja. Desta vez, resolvi falar sobre dificuldade que muitos jovens gays enfrentam para serem quem eles são de verdade. 

Para a maioria da sociedade, ser homossexual é algo digno de vergonha, quando não de punição verbal ou até mesmo física, afinal ser gay seria uma “escolha”, um ato de rebeldia contra os bons princípios da sociedade como um todo. No campo religioso, a homossexualidade é vista como uma “perversão diabólica”, uma “abominação” contra Deus e sua vontade. Frequentemente religiosos (e curiosamente não religiosos também) citam passagens bíblicas para afirmarem que ser gay é algo horrendo: “E deixará o homem seu pai e sua mãe e se unirá a sua mulher[e não a outro homem], e serão ambos uma só carne”, “E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro “. E é neste ambiente de hostilidade que gays e lésbicas são criados, sentindo-se compelidos a reprimirem seus desejos e assumirem uma postura heterossexual para estarem de acordo com “as regras sociais” e com a “palavra de Deus”. 

Recentemente tenho acompanhado o processo frustrado de “saída do armário” de alguns irmãos da CCB. Um deles, um rapaz tímido, de boa conduta, músico oficializado, após tentar alguns relacionamentos com irmãzinhas e não conseguir desenvolver a “química do amor”( por razões óbvias), tentou encontrar em sua família um entendimento sobre sua condição sexual. Seus pais, psicologicamente despreparados para lidarem com a situação, possuindo apenas o entendimento teístico sobre o tema, lançaram todo o terror da religião sobre ele. Não bastasse isto, seu pai, crente batizado, disse que “se seu filho virasse isto” (ou seja, assumisse sua homossexualidade) ele o mataria. Sem apoio algum da família, e cheio de conflitos em sua mente, este jovem buscou a psicologia. Ao chegar ao consultório, ele foi orientado que a única forma de ele ser feliz seria sendo o que ele realmente é, e não o que a família e a sociedade queria que ele fosse. Ele deveria, portanto, enfrentar o preconceito e a ignorância de sua família, tentando esclarecer-lhes sua condição. Este rapaz, nascido e criado dentro da Congregação Cristã, argumentou com a psicóloga que ele era crente e que não era da “vontade de Deus” esta sua condição. Ele saiu do consultório aos prantos. Da última vez que conversamos, ele me disse que “ amorteceria seus desejos carnais” em nome de suas crenças. Infelizmente, a verdade é que ele adotou esta atitude por não encontrar apoio em sua própria família e estar em conflito consigo mesmo, conflito este causado sobretudo pela religião. 

Um outro rapaz da CCB, músico oficializado, viveu por alguns anos uma vida dupla perante a igreja e sua familia. Após ter sido descoberto sem que tivesse sido sua intenção (estava em um relacionamento com um outro rapaz da CCB), ele assumiu sua homossexualidade para sua familia, mas após algum tempo chegou à conclusão que “jamais seria feliz vivendo com um homem”, já que a religião tinha um papel muito importante em sua vida e ele jamais seria aceito na igreja vivendo desta forma. Assim sendo, após algum tempo deste ocorrido ele “voltou para o armário”, buscou uma moça da CCB, a qual certamente desconhecia sua trajetória, e se casou. 

Um terceiro jovem da CCB há algum tempo me disse que estava interessado em um colega de trabalho mas que não sabia como fazer para saber se ele também estava afim dele. Encontrando-o novamente estes dias eu perguntei como ele estava. Surpreendentemente, ele me disse que estava namorando uma “irmã da CCB”. Eu lhe questionei o motivo, e ele me disse que “por influencia do ambiente, e sobretudo da religião” ele estava namorando esta moça, e que “ele não conseguia lagar de Deus”... 

Tendo como base estas três histórias, dá para perceber que a maioria dos gays da CCB, e não somente da CCB mas também de outras igrejas evangélicas, encontram grande dificuldade em assumirem sua condição homossexual, já que os valores da religião criam um conflito muito forte em suas mentes, além de encontrarem resistência em seus parentes também evangélicos, e sobretudo o medo de perder suas identidades religiosas. Para estes, não há como assumir um relacionamento gay e continuar sendo membros da comunidade religiosa à qual eles pertencem, o que seria sinônimo de abandonar a Deus. Assim, muitos preferem buscar um casamento com alguém do sexo oposto. Em muitos destes casos, infelizmente, existe um namoro / casamento de fachada e um (ou muitos) casos amorosos paralelos com pessoas do mesmo sexo. 

Será mesmo que vale a pena viver escondido atrás da religião e de relacionamentos infelizes para agradar aos outros? Será mesmo que é esta a vontade de Deus?

12 comentários:

  1. interessante este texto, sou heterossexual casado, tenho 25 anos e batizado na CCB aos 12 anos. Entendo que a situação dos homossexuais na CCB deveria ser abertamente discutida e não ser tratada como um tabú. Não para discutir o que é pecado ou o que é aceitável, mas discutir para que se garanta um mínimo de preparo aos membros, principalmente do ministério, para lidar com o assunto da forma mais amorosa e justa que nós, humanos, podemos alcançar.

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  2. Quem nasceu na graça jamais vai conseguir conviver de uma maneira que sempre lhe foi mostrada que é extremamente errada, pecado grave diante do Deus altíssimo. Se você passa a viver assim, acaba se sentindo fora da doutrina,indigno de estar no seio da igreja. Não há opção para os que são diferentes. Sou jovem, músico, batizado. Já tive algumas namoradas, mas não rolou a tal "química" e olha que me esforcei. Mas também me senti extremamente mal vivendo fora dos princípios cristãos. Logo, não há remédio a não ser a tão almejada libertação. Que Deus nos proteja!

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  3. Eu sou nascido e criado em lar cristão...ainda tenho vários problemas em me aceitar,mais eu sei,não sinto desejo por mulher,sou um rapaz direito e de um coração imenso e com plena convixão de que Deus me ama e eu amo muito a Deus..ele me conheçe sabe do meu temor por ele então eu penso,não devo satisfações pra ninguém..e antes eu continuar assim do que me casar com alguma irmanzinha sem ama-la de verdade..isso sim seria pecado,estou mentindo pra mim mesmo e pra Deus...já perdi perdão pra Deus,mas também peço,eu quero ser feliz com alguém queria muito que fosse com algum irmão da CCB dentro das doutrinas e com o temor de Deus no coração pq eu sei que não estariamos fazendo nada de errado..eu não entendo como um amor puro entre duas pessoas pode ser pecado? Vão me desculpas mais eu não vejo mal algum nisso!

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  4. As pessoas, a igreja são muito malvadas. Deveriam ter mais misericordia. Ninguem escolheu esse caminho, apenas aconteceu. Os lideres agem sem piedade e os demais da igreja são um bando de fanaticos e hipocritas. O mandamento amaras o teu proximo como a ti mesmo nunca é praticado.

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  5. Muito interessante o tema abordado.
    Não culpo a igreja, o corpo ministerial, muito menos os princípios da doutrina; infelizmente vivemos em uma sociedade individualista e que importa-se com aparências. Não podemos pedir aceitação da CCB, se ainda não obtivemos sucesso com o exterior dela. Sabemos que o homossexulismo sempre existiu e que demorou décadas para aparecer. Hoje tudo parece normal, assim como a falta de espiritualidade daqueles que se chamam de anciães e similares. Sei que é uma sensação desagradável viver em dois mundo - dentro da igreja e fora dos ensinamentos - mas jamais poderemos largar da graça. Oração e fé é a única solução para conseguir combater tal tabú, a falta de espiritualidade e aturar os hipócritas que passam as diretrizes ao povo. Abraço - Anônimo 3.

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  6. A paz de Deus!

    É incrível como a história se repete em relação ao homossexual dentro da CCB. Nem relatarei sobre minha vida porque ela é a mesma porção da de vocês.
    Minha mensagem então é que possamos ser fortes para enfrentar essa prova que ao meu ver é a mais intensa e dura que Deus poderia conceder a alguém e acredito que nossa força é imensa pois Ele acredita que venceremos.

    Parabenizo a iniciativa do blog e que possamos ter uma crescente comunhão de ajuda em nosso meio. E sugiro o tema de um novo post: Casamento homossexual dentro da CCB - possibilidade e/ou heresia?
    Percebi que o ir. Brandon tem conhecimento e experiência sobre diversos assuntos homoccb e seria interessante sua opinião a esse respeito, afinal conheço poucos humanos que realmente têm felicidade na solidão.

    Comentarei mais vezes. A paz!H.D.

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  7. A partir dos 12 anos, comecei a notar que eu era um pouco diferente dos meus amigos e dos meus três irmãos. Aos 16, percebi que tinha sentimentos homossexuais. Na minha cabeça, gays eram: feios, magricelos, vestiam roupas coloridas e apertadas, andavam rebolando, eram delicados e ficavam no grupo das moças com intimidade como se fosse uma delas. – Se eu não comportar assim, serei um “homem de verdade” – pensava. Apesar de não comportar assim, queria apagar qualquer indício de que alguém pudesse suspeitar das minhas preferências. Comecei a trocar algumas roupas que eu achava que fossem gays, matriculei-me em uma academia para não ficar magricelo, passei a fazer parte do grupo do ensino médio que zombava dos rapazes que tinha trajetos efeminados; apesar de a consciência pesar, queria provar para mim mesmo que eu não era como um daqueles, e tornei-me grosso e um pouco impiedoso com as pessoas. Na época, meus irmãos ou eram casados ou já namoravam, e então comecei a namorar uma irmãzinha para não levantar suspeitas. Hoje tenho 23 anos, e durante estes sete anos esses sentimentos abomináveis nunca foram embora, nunca diminuíram ao contrário a cada dia se tornam mais fortes, eu já perdi as contas de quantas noites eu passei chorando com a cabeça coberta para que meu irmão não notasse, e quantas orações eu fiz para que Deus me libertasse destes desejos ou que me tirasse à vida (aliás, essa é uma das únicas coisas que eu não paro de pedir). Mesmo depois de fazer um monte de coisas para ser um “homem de verdade”: hoje meu guarda roupa só tem roupas escuras e folgadas, eu virei um brutamonte depois de tantos anos de academia, me tornei indelicado com as pessoas, tenho que dizer que, apesar de ter tido sucesso em esconder o fato de ser homossexual não conseguir me tornar heterossexual. Digo que prefiro o suicídio a confessar aos meus pais os meus sentimentos, para não desapontá-los; e eu sei com toda certeza que eles nunca aceitarão ter um filho homossexual, meu pai é oficial do exército e sempre criou eu e meus três irmãos mais velhos na mais rigorosa disciplina e certa vez quando o filho de uma das vizinhas do nosso prédio disse a sua mãe que era gay, minha mãe disse que se isso acontecesse em casa mandaria juntar as “trouxas” e ir embora. Mas, no desespero da vida eu pensei: muitos homossexuais não conseguem viver casados em um relacionamento heterossexual e também ter filhos? Se muitos podem, eu também posso! Não quero magoar minha namorada depois de sete anos de namoro (ela sinceramente é apaixonada por mim) e magoar meus futuros sogros, não quero perder meus pais, meus irmãos, a confiança da irmandade que tanto gostam de mim e a minha liberdade de tocar na Congregação que eu amo tanto (e quem sabe perder o amor de Deus por mim?). Coloquei tudo isso na balança e cheguei à conclusão de que mesmo que tenha carregar uma pesada cruz que tenha que fazer algo que não queira (que é casar), farei, no entanto, para não magoar ou desapontar aqueles a quem eu amo muito. Tenho Fé (e a Fé move montanhas) de que quando casar consiga agradar a minha esposa e fazê-la feliz, mesmo não vendo condições sentimentais para isso.

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  8. A paz de Deus meu irmão!

    O seu sofrimento não é diferente de tudo o que eu vivi até meus 25 anos de idade, quando eu então conseguir ser forte e Homem o suficiente (sim, sou Homem e me considero muito corajoso pelo que fiz) para sair do armário para minha família. Hoje, aos 28 anos, e com quase 3 anos fora do armário, posso dizer que sou uma pessoa muito feliz. Sou bem resolvido comigo mesmo. Meus amigos me aceitaram como eu sou, também a minha família. Muita gente não acreditou quando eu sai do armário. Muitos dos meus parentes choraram, pensando que eu iria virar uma travesti ou que seria uma "bichinha afetada", com o perdão da palavra. Mas como tudo na vida passa, este primeiro impacto passou. Sou respeitado pelos meus amigos, vizinhos e familiares. Estive por dois anos em um relacionamento com um rapaz também da CCB, ambos nos assumimos para nossas famílias, e fomos bem tratados e respeitados.
    Você tem que pensar uma coisa: até quando valerá a pena você viver uma vida de aparências para agrader aos outros? Será que outras pessoas que você tanto considera fariam o mesmo se estivessem na sua situação? Leia este link abaixo http://shareforthefuture.wordpress.com/2013/08/16/15-coisas-que-voce-precisa-abandonar-para-ser-feliz/ espero que voce consiga achar sua verdadeira identidade e que seja muito feliz.

    Fique com Deus.

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  9. Infelizmente muitos ficam nessa de agradar irmão e irmã da igreja e esquece de se resolver.

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  10. Uau! Li acima sobre suicídio, pois talvez os pais não aceitariam...não faça isso quem escreveu, por favor!
    Os pais acabam aceitando sim, é só achar o momento certou para falar. No meu caso, eu liguei para meus familiares num mesmo dia, começando pela minha mãe. Ao final do dia, foi um alívio ter contato. Hoje está tudo bem. No fundo no fundo nossa mãe principalmente, quer nos ver felizes. Sou da CCB também.

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  11. Nasci na graça, nunca tive influências homossexuais na minha vida, mas conforme fui crescendo minhas amigas gostavam de garotos e eu de garotas. Isso desde sempre, não foi rebeldia nem nada do tipo. Com 15 anos me batizei e tentei sacrificar esse meu lado, tive alguns namorados mas não sentia atração alguma por eles. Sou uma moça bonita, de aparência, hoje com 20 anos existem muitos moços que tentam algo comigo, mas sinceramente não dá mais, como o texto mesmo diz, estou vivendo uma vida dupla, sou uma pessoa para a igreja e fora da igreja sou eu mesma. Tenho um único amigo que conhece minha condição, ele também é crente. Combinamos inclusive de fazer um casamento de fachada, porque aí ambos seríamos livres, já que eu sou homossexual e ele é pecador escondido no meio da orquestra (ele se relaciona sexualmente com várias garotas sem ser casado).

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