Uma Carta ao Ministério da Congregação Cristã no Brasil
Queridos irmãos Anciães, Cooperadores, Cooperados de Jovens e Diáconos, a Santa Paz de Deus seja convosco!
Em nome dos milhares de rapazes e moças homossexuais da Congregação Cristã no Brasil, deixo minhas considerações sobre vossas recentes pregações no tocante à homossexualidade, dentro dos inúmeros templos espalhados pelo nosso país.
Todas as vezes que os irmãos abordarem este tema, tenham em mente que garotos muito jovens estão ouvindo vossa pregação. Quer vocês aceitem ou não, a homossexualidade não é um comportamento aprendido, mas sim uma tendência involuntária que abrange cerca de 10% de toda a população mundial, e vossos filhos, netos e bisnetos não serão poupados desta estatística pelo simples fato de vocês proferirem ameaças de condenação eterna em um lago de fogo ardente caso eles sejam gays. Se vocês fossem mais próximos da mocidade, iram notar que desde criança alguns meninos são mais delicados que outros, apresentam gostos e preferencias que divergem da maioria do grupo, e muito certamente estes meninos se tornarão adultos gays. Isto é explicado pela psicologia e pela pedagogia, e não se trata de influência externa. Portanto, abandonem o preconceito de que as pessoas se tornam gays por influência externa, quando esta é, de fato uma característica inata de muitos seres humanos.
Muitos dos irmãos sabem que a Congregação está repleta de rapazes gays, mas não querem que estes moços entendam sua própria sexualidade, obrigando-os através de terror psicológico, isto é, ameaça de condenação eterna, a se camuflarem no meio da multidão, fingindo serem héteros seletivos que não querem se casar para ter uma melhor condição financeira. Vemos moços beirando os 30 anos sem nenhum interesse por mulher e os irmãos querem mesmo que o povo acredite que eles estão esperando em Deus? Sejamos realistas e encaremos os fatos, estes rapazes são gays e é melhor mesmo que eles não se casem com nenhuma irmãzinha, a menos que ela esteja ciente de que irão contrair matrimônio com alguém que gosta da mesma coisa que ela, mas que para manter as aparências prefere se casar para evitar cobranças sociais.
Parem também de usar Romanos I para oprimir os milhares de crentes homossexuais através de vossas pregações. Leiam e releiam mil vezes este capítulo antes de qualquer pregação. Entendam qual era a ideia de Paulo sobre a homossexualidade: pessoas que não se interessavam por Deus e nem queriam saber dele foram entregues à paixões da carne. É este o caso dos gays aos quais vocês estão pregando? Acredito que não, e vocês também sabem que não, pois são auxiliares, músicos, meninos que vocês viram crescer desde os primeiros passos na RJM recitando salmos e que sempre adoraram ao Deus de Israel, buscando sempre seus conselhos. Além do mais, para Paulo estes supostos gays eram iníquos, malignos, homicidas, aborrecedores de pai e mãe. Qual é a relação deste capítulo com a mocidade homossexual à qual vocês estão pregando? NENHUMA, portanto adequem vossas pregações e sejam coerentes. Citar Levítico para suportar vosso preconceito contra gays? Nem pensar, a menos que vocês também sejam a favor de outras leis leviticas como abster -se de frutos do mar, não usar roupas de dois tecidos diferentes, apedrejar até a morte filhos desobedientes, e tantas outras coisas sem sentido para a nossa sociedade moderna. Também não vale argumentar que Deus criou macho e fêmea, e mandou-os encher a terra. Quando isto aconteceu a terra só tinha Adão e Eva, hoje somos mais de 7 bilhões e até 2050 seremos quase 10 bilhões. A terra já parece estar bastante cheia não parece? E mesmo assim, quando "macho e fêmea" cristãos se casam hoje em dia evitam filhos através de métodos contraceptivos, aparentemente ferindo o mandamento bíblico de reprodução? Por que isto é tolerado e o cristão homossexual é condenado?
Pensem que a cada vez que vocês falam contra a homossexualidade vocês estão ferindo na alma uma boa parcela da mocidade que vive um conflito de FÉ x SEXUALIDADE, conflito este causado pela própria Igreja, levando centenas de jovens gays à depressão e muitos até mesmo ao suicídio.
Lembrem-se de que a missão de Cristo na terra era a de Salvar, e não a de condenar. Aliás, Jesus condenou apenas o sistema religioso de sua época, o judaismo, o qual se atinha a ritos, dogmas e formalidades. Jesus foi um revolucionário da sua própria fé, questionando a condenação daqueles que quebravam o sábado e desafiando o excesso de zelo dos escribas e fariseus. Antes de proferir qualquer palavra contra os homossexuais em vossa próxima pregação pensem duas vezes e reflitam: Será que Jesus falaria isto?
E para finalizar, é bom lembrar que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma realidade do nosso tempo, portanto mesmo que a igreja não aceite este tipo de união é dever de todos respeitar as decisões que cada indivíduo toma sobre sua vida. Assim como cada um pode escolher qual religião praticar, também pode escolher com quem se unir e se casar, e esta decisão deve ser respeitada. Também não se esqueçam que nossa constituição garante o direito à integridade moral do ser humano, então nada de chamar casais homossexuais de aberrações, filhos do demônio nem nada do gênero. Lembrem-se de como Jesus tratava os que iam após si.
Deus vos abençoe e vos revista de sabedoria para pregar.
Vosso irmão em Cristo.
Realmente é carta sincera e com grande questionamento para refletir sobre como não só a cbb deve a abordar mas todas as igrejas.
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