A publicação a seguir foi realizada integralmente pela revista Exame. Resolvi compartilhá-la nesse blog pois trata de uma das figuras mais polêmicas do país quando o assunto é homossexualidade, o pastor Silas Malafaia. Formado em psicologia, Malafaia afirma que a Homossexualidade (ou homossexualismo) é um comportamento aprendido, passível de reversão, e não uma característica natural presente em muitas espécies de seres vivos, como afirma a própria psicologia e a ciência. Podemos ver abaixo a forma de prosselitismo da igreja do referido pastor, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo.
O pastor carioca é o último dos grandes pregadores evangélicos a entrar em São Paulo, o maior mercado do país
O que era para ser um banquete virou apenas a entrada. Desde sábado, o pastor Silas Malafaia promove celebrações para inaugurar a primeira sede de sua igreja, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo, em São Paulo. Mas o espaço estreado na Mooca, zona leste paulistana, ainda não é a igreja definitiva. Depois de um ano pesquisando o mercado e sondando as oportunidades, ele fechou negócio em um imóvel a quatro quilômetros dali, onde começou uma reforma para levantar uma igreja para 6.000 pessoas.
No meio do caminho, mudou de rumo. Apareceu o imóvel na Mooca, ele resolveu reformá-lo rapidamente para transformar em igreja provisória, para 3.600 pessoas, e redimensionou o projeto da sede original para 10.000 pessoas. Aquela, a primeira, abre dentro de três anos. Esta, a provisória, abre neste fim de semana. “Desde a assinatura do aluguel, levamos 45 dias para aprontar o lugar, rebaixar o piso, instalar o som, as salas de estudo, as cadeiras, numa conta simples só com essas coisas gastamos 2,5 milhões de reais”, revelou Malafaia a EXAME Hoje.
O pastor carioca é o último dos grandes pregadores evangélicos a entrar no maior mercado do país. Ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo, da Igreja Mundial do Poder de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago e da Igreja Internacional da Graça de Deus, do missionário R.R. Soares, Malafaia vem fechar na cidade o grupo de principais líderes religiosos da fé que mais cresceu no país nos últimos anos.
De acordo com censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os evangélicos somavam mais de quarenta e dois milhões de fiéis no Brasil, ainda bem atrás dos católicos (mais de 123 milhões), mas à frente de todas as outras religiões e descrentes somados. O censo indica duas curvas nítidas: evangélicos, em crescimento vertiginoso, passaram em 2010 a representar 22,2% da população brasileira. Dez anos antes, esse número era de 15,4; vinte anos antes, de 9%. Do outro lado, os católicos, que em 2010 representavam 64,6% da população brasileira, ainda são uma sólida maioria, mas em queda. Para se ter uma ideia da curva que os números apontam, em 1970 a porcentagem de católicos na população brasileira era de 91,8%.
O crescimento dos evangélicos se deve principalmente ao neopentecostalismo, ou a terceira onda pentecostal, surgida na década de 1960 no Rio de Janeiro com o nascimento da Igreja Universal do Reino de Deus. O tele-evangelismo, o combate às religiões de matriz africana, a teologia da prosperidade (que, em breves linhas, celebra a riqueza como vitória), entre outros, compuseram uma política agressiva de crescimento que tirou fiéis da Igreja Católica e elevou em muito o nível de tensão entre as religiões cristãs no país.
No entanto, a gênese do pentecostalismo está na Assembleia de Deus, a igreja na qual Malafaia nasceu e foi formado, no caso dele a filial da Penha, na zona norte carioca. “Daniel Berg e Gunnar Vingren sentiram um chamado do Senhor para pregar a mensagem pentecostal no Brasil”, relata David Allen Bledsoe em Movimento Neopentecostal Brasileiro (Editora Hagnos, 2012). Os dois pregadores atuavam nos Estados Unidos no começo do século passado e seguiram o chamado, indo parar em Belém do Pará em dezembro de 1910. Foram abrigados por um pastor batista e aprenderam português para poder pregar. “Em 1911, ocorreu uma divisão entre eles e a Igreja Batista, o que resultou no começo da Missão de Fé Apostólica, com dezenove membros. Em 1914, o nome mudou para Assembleia de Deus”, registra Bledsoe. Era o início do pentecostalismo no Brasil
Aumentar o dízimo para depois dividir
Parte do projeto de crescimento dos evangélicos esteve ligado também a uma certa flexibilização de conceitos. No catolicismo, qualquer mudança é lenta. Mesmo vivendo um momento progressista sob o comando do Papa Francisco, o sexo, segundo a igreja, ainda se destina somente à procriação. Do outro lado, Edir Macedo proclama em sua biografia oficial, O Bispo (Douglas Tavolaro com Christina Lemos, Larousse, 2007) que “sexo é para ter prazer” e que “a cama é a base de uma aliança no altar”.
E o projeto de expansão é também um projeto financeiro, uma vez que cada um deve, segundo a Bíblia, dar a décima parte do que ganha à igreja, e fazer outras ofertas de acordo com seus propósitos. Logo, numa conta simples, mais fiéis trazem mais recursos que trazem mais igrejas que trazem mais fiéis. A expansão da Vitória em Cristo não é diferente.
Hoje a congregação tem 120 igrejas em seis estados brasileiros, mas a chegada a São Paulo marca um novo planejamento. “Meu projeto é abrir mil novas igrejas nos próximos dez anos pelo Brasil”, me diz Malafaia. “Claro que terei um olhar especial para o Estado de São Paulo, mas quero abrir igreja em tudo quanto é canto, do Amapá ao Rio Grande do Sul, não importa se é lugar de bacana ou não”, enfatiza, em seu tom de voz característico, alguns tons acima.
Nem todo mundo no meio evangélico enxerga nele uma liderança absoluta. “A vinda de Malafaia para São Paulo é muito mais política e empresarial do que eclesiástica”, pontua Marcelo Rebello, presidente da Associação Brasileira de Empresas e Profissionais Evangélicos (Abrepe). “Em sua campanha para se tornar um líder reconhecido, é notória a importância de estar na cidade com o maior PIB do país, onde estão os principais concorrentes. É uma grande vitrine e acho até que demorou para ele tomar esta decisão”, conclui Rebello. Político, empresarial e eclesiástico, Silas Malafaia é, sob todos esses aspectos, um bem-sucedido CEO da fé cuja forma de comandar seu, digamos, negócio traz ensinamentos. Selecionamos oito lições empresariais que podem ser apreendidas do líder da Vitória em Cristo:
1.Modernize-se sem abandonar as tradições
“Nossa igreja é marcada pela palavra, o pastor prega uma mensagem bíblica, ensina um assunto. Essas igrejas neopentecostais, as três mais famosas, são igrejas de cinco cultos por dia”, pontua Malafaia. Do jeito que ele fala, entender como funciona a Assembleia de Deus parece simples, mas não é. “São três vertentes. A mais ortodoxa, fechada, corresponde a mais da metade; uma ala moderada responde por uns 30%, e a ala contemporânea, da qual faço parte, representa de dez a quinze por cento”, lista Malafaia. Todos são iguais nos dogmas de fé, creem nas mesmas coisas, mas os costumes estão mais ou menos em sintonia com o mundo do lado de fora. Silas Malafaia é ligado à Assembleia de Deus desde criança, “A nossa era conhecida como ‘a igreja do pecado’ pelas outras congregações da Assembleia de Deus”, lembra o pastor. “Tive a graça de estar numa igreja mais aberta e ter nos meus pais pessoas com conhecimento teológico”, resume. Como queria expandir sua igreja e a quantidade de regras dentro da Assembleia de Deus era típica, como ele mesmo define, de um “mundo de maluco”, saiu da organização central numa boa e montou uma ramificação, a Assembleia de Deus Vitória em Cristo. “Se quiser abrir uma igreja, não quero ter de ver se o pastor do bairro vai deixar, eu abro e acabou, não devo satisfação a ninguém”, diz. Um liberal na igreja e um conservador no ambiente mundano, Jerry Hall morreria de inveja se o conhecesse.
2. Seja sempre mais ambicioso
Malafaia era conferencista havia 35 anos, tinha viajado o mundo pregando, tinha uma editora, lançava seus livros, aparecia na TV, era conhecido em seu meio e não pensava em assumir uma igreja. Mas, uma vez convocado para liderar, não se fez de desentendido: abraçou a causa. “Cuidar de pessoas é a coisa mais difícil que tem. A igreja do meu sogro era de bairro, o que chamam de igreja local”, lembra o pastor. “Pensei: não vou assumir uma igreja para ser pastor local, para isso escolham qualquer outro aí. Vou pegar essa igreja e dar a ela uma abrangência nacional”, proclama.
3. Saiba esperar as oportunidades
A expansão da Vitória em Cristo começou sem planejamento fixo, mas para onde as oportunidades apareceram. “Um cara abriu um bingo num lugar fantástico em Natal, e com trinta dias aberto veio a lei e ele foi obrigado a fechar. Fui ver um ano depois, ele não queria alugar para ninguém, quando falei que era o Silas Malafaia ele topou. E assim entrei em Natal”, lembra, com uma ponta de orgulho. “Em Santa Catarina, uma senhora evangélica dona de universidades em Joinville soube que estava abrindo igrejas, me ligou e falou que tinha um terreno, eu só precisava pagar o aluguel”, relembra.
4. Conheça e cuide de seus comandados
Silas Malafaia tem cerca de 1.500 funcionários sob seu comando nas estruturas da Vitória em Cristo, entre pastores, engenheiros, funcionários administrativos e outros, a maioria concentrada na matriz carioca. “A estrutura dos templos e os detalhes fazem o Malafaia atingir um público com maior poder aquisitivo que o da Universal e o da Mundial”, analisa Marcelo Rebello. “Ele, por exemplo, costuma fazer propaganda de como paga bem a seus pastores, dos benefícios trabalhistas que dá a eles, etc.”, completa. De fato, em 2013 Malafaia revelou que um pastor de sua igreja poderia ganhar até 22.000 reais. Mas o plano de carreira não é fácil. “Para chegar a ser pastor comigo ele vai ser assistente até chegar ao primeiro nível, chamado de ‘diáconos’, um corpo de assistentes sem salário”, relata. “Se tiver mesmo a vocação, vai dirigir igrejas pequenas, onde a gente possa testar o camarada e ver se ele vai virar pastor ou não. Não tem uma regrinha, mas para virar pastor e ser consagrado o cara vai levar, no baratinho, de quatro a cinco anos pelo menos”, decreta.
5. Diferencie-se pela qualidade
“O meu sistema de abrir igrejas não é igual ao do Valdemiro, da Universal ou do R.R.”, diz Malafaia antes que o entrevistador toque no nome de seus concorrentes. “Eles têm custo muito baixo, abrem um galpão com sala para o pastor, outra para a tesouraria e outra para a secretaria e acabou o papo. Eu não, para abrir uma igreja, só de área educacional preciso ter no mínimo vinte salas. Toda igreja que abro tem que ter esse padrão, não sou caça-níquel”, diz, enfático. “A Universal, por exemplo, hoje tem uma estrutura diferenciada, mas o que os caras abriram de igreja com gente que não sabia nem o beabá da Bíblia…”, alfineta. Uma igreja padrão Malafaia custa em torno de 10 milhões de reais (isso, claro, varia de projeto a projeto) e tem ar-condicionado, sistema de som de última geração, TVs de led. “A igreja tem o papel social de melhorar a vida das pessoas. Quando o cara vem à Igreja e a casa dele é esculhambada, ele passa a querer melhorar a casa. Eu prego sobre isso, que Deus é esse que não dá dignidade para as pessoas terem uma vida melhor?”, teoriza.
6. Não fale em dinheiro
A revista Forbes publicou, em 2013, que Malafaia era o terceiro pastor evangélico mais rico do país (atrás, claro, de Edir Macedo e Valdemiro Santiago), com patrimônio estimado em 150 milhões de dólares. Irritado, ele mostrou na TV sua declaração de Imposto de Renda, na qual constava um patrimônio de cerca de R$ 4,5 milhões, e está processando a revista. Em sua concepção, sempre que se fala em dinheiro e em pastores evangélicos, há a intenção de sugerir algo ilícito. “A ideia que se passa sempre é a de que a igreja evangélica é formada de imbecis e analfabetos comandados por malandros. Por que ninguém fala dos bilhões que a Igreja Católica manda todos os anos para o Vaticano?”, pergunta, aproveitando para classificar a questão sobre faturamento como uma “pergunta babaca”. Malafaia ainda garante que fez um propósito de abrir mão de salário em sua igreja por sete anos – o prazo vence em março do ano que vem.
7. Deixe claro que é o cargo que precisa de você, e não o contrário
“Meu aniversário é em setembro e eu ganho ofertas em dinheiro. Apenas por dois anos fiquei com elas para mim, e paguei o imposto devido, nos outros eu devolvi”, conta Malafaia, nesse momento à vontade para falar de dinheiro. Ele teve de diminuir o ritmo de palestras depois de assumir a igreja – este ano foram apenas seis ou sete lugares, pelo que lembra. Tudo em nome de um propósito. “Um conferencista conhecido como eu fica rico. Se estivesse fazendo só conferência, com venda de material, estaria faturando entre 300.000 e 400.ooo reais por mês fácil. Os evangélicos cresceram e com eles cresceu também uma fome de conhecimento, e não há cinquenta caras do meu nível para atender essa demanda”, regozija-se.
8. Cause impacto
O Silas Malafaia formado em psicologia e em teologia, casado há 36 anos (“com a mesma mulher”, faz questão de completar), que tem três filhos e com o quinto neto a caminho raramente aparece nas manchetes. O que de fato o tornou uma pessoa pública nos últimos anos foi sua capacidade de polemizar sobre assuntos como homossexualidade e aborto. “Ele é muito mais conhecido por sua gíria antiquada e linguajar vulgar que pela capacidade de interpretar com equilíbrio e imparcialidade os textos bíblicos”, condena Marcelo Rebello. “A Bíblia é bem clara no que diz respeito à homossexualidade e ao aborto, no entanto, a palavra de Deus manda sermos tolerantes com as pessoas que não têm o mesmo ponto de vista que o nosso. A mensagem deve ser pregada com amor, com equilíbrio e com sabedoria, não pode ser um show pirotécnico”, conclui o presidente da Abrepe.
Amado e odiado, bem ou mal, estamos falando bastante dele nos últimos anos. E isso, aliado, claro, a toda a visão empresarial destilada aqui, está levando Silas Malafaia mais longe. Hoje a Mooca, amanhã, quem sabe, o mundo.
Fonte: Revista Exame
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