quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vivendo uma mentira

Devido à pressão social, religiosa ou, em muitos casos, ambas ao mesmo tempo, muitas pessoas se sentem forçadas a serem alguém que a sociedade ao seu redor quer que elas sejam, e não quem elas realmente são. A história de Gareth Thomas, um famoso jogador de hugby do Reino Unido ilustra muito bem esta realidade.

Gareth Thomas, jogador profissional de hugby, 35 anos e várias horas diárias de treinamento com levantamento de peso. Tem 1,92 metros, 101 quilos, um porte imponente e é gay. Desatou a chorar mal pronunciou a palavra, nos balneários de Gales, em frente ao treinador e a dois colegas de equipe, durante um jogo, em Novembro de 2006.

Este fim-de-semana decidiu abrir um precedente. Ser o único jogador de hugby assumidamente homossexual ainda em competição. "Espero que o meu exemplo faça diferença para todos os que estão numa situação parecida com a minha", disse em entrevista ao "Daily Mail". "Eu era como uma bomba-relógio. Pensei que podia reprimir este sentimento, mantê-lo fechado em algum canto escuro dentro de mim, mas foi impossível. Não podia ignorar durante muito mais tempo quem realmente era", desabafou.

No Verão de 2006, Thomas separou-se da mulher e evitou falar da sua homossexualidade na autobiografia "Alfie" (alcunha que deve ao fato de dizerem que é parecido com o boneco da série "Alf"), que publicou no ano seguinte. Para ele, ainda não era o tempo certo. "Passei por todo o tipo de emoções ao tentar lidar com isto. Foi difícil esconder a minha orientação sexual. Por isso, quis ser um exemplo para os jovens gay ou bissexuais que no futuro queiram jogar hugby", disse Thomas, que agora alinha pelo Cardiff Blues.

A ideia do suicídio foi uma das muitas que passaram pela cabeça do jogador. "Senti-me tão sozinho e deprimido. Cheguei a levar o carro para junto de uma falésia perto da minha casa. Só pensava em pôr um ponto final neste sofrimento todo. O meu maior medo era que os meus colegas de equipa descobrissem a minha homossexualidade, que pensassem que eu estava interessado neles e que me rejeitassem por isso." Mas tal não aconteceu. O Stephen Jones e o Martyn Williams (os dois colegas a quem confessou ser gay) tiveram a mesma reacção: "Não nos importamos, Thomas. Porque não nos contou isso antes?", explicou Gareth, que sabia que era gay desde os 16 ou 17 anos. "Sabia que era, mas daí até aceitar o facto foi um longo caminho. Se tivesse contado tudo logo no início, nunca teria chegado onde cheguei no hugby profissional. Transformei-me no mestre do disfarce. Era demasiado homem para aceitar um chá, e andava sempre metido em rixas e agressões porque não queria que me descobrissem. Cheguei a inventar façanhas sexuais."

Peter Tatchell, ativista dos direitos dos homossexuais disse ao "Telegraph" que no hugby há uma atitude mais relaxada em relação à homossexualidade do que no futebol. "Conheço quatro futebolistas bastante famosos que são gay, mas não têm coragem para se revelarem. Há muitos mais, sem dúvida. Chega a ser irônico até. Os jogadores gay e bissexuais são, regra geral, os mais machos em campo, mas quando se trata de sair do armário, são tímidos e levam anos a fazê-lo".




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